Sede

Eu não te amo, disso eu sei. Mas eu gosto pra caralho de você. Gosto (ou gostava) de tê-lo no meu dia, do teu sorriso me tentando, provocando pra jogar o medo pro lado e apenas ficar lá contigo; gosto de quando consigo engolir esse inferno, esse redemoinho todo que tá dentro de mim e apenas respiro, sinto tua pele, tua respiração quente me fazendo suar. Ah, eu gosto demais disso tudo. Amor, eu nem sei que diabo é isso. Se dá pra definir, sintetizar, e o pior, acreditar. Tem que ser muito louca pra abraçar uma ideia dessas, cê não acha? Porra. Falam tanto dessa coisa, essa doença que nos faz viver assim, querendo mais da dor, do prazer, da mistura indefinível que sai deses dois. Falam que isso pode te deixar maluco, sem razão, rumo nem nada. E mesmo eu nem acreditando, já nem sei mais por onde larguei meus últimos passos, sabe? "Foda-se", eu disse, e achei que essa seria a solução. Ah, tolice! O quão idiota tive de ser pra achar que seria assim, tão natural? Nada é natural. Dizem que sim, que é, que flui: babaquice. A gente quer, a gente força, mente, rouba, se suja inteiro pra conseguir só mais um segundo do gosto doutra pessoa. Dessa pessoa, seja lá quem ela for pra ti. Eu sei quem ela é pra mim. Eu a odeio e a quero aqui o tempo todo, enquanto eu ainda puder sentir algo entrando e saindo de meus pulmões. Eu não a amo nem nunca irei amar, isso eu garanto. Mas eu a desejo, desejo de todas as maneiras possíveis-- e aí? Já era pra mim, eu sei. Mas deixa eu sonhar, deixa. Deixa eu acreditar, nem que só mais um pouco, que minha pele também te arrepia, que eu tenho alguma beleza que atraí a tua carne, tua cerne pra cá. Antes morrer na mentira do que na secura de passar por ti e fingir que sinto nada. Sinto, sinto e morro, desabo-me e caio aos teus pés, me arrasto pras migalhas que tu deixas sem notar. Só mantenha-me aqui, eu lhe peço. O resto, a vida e sua verdade desgraçada, eu aguento. Eu só quero você.