Secura

Eu preciso, nem que só por um segundo, abandonar minhas certezas. Preciso, quero e mereço a queda, mereço perder o chão, o rumo de para onde estou indo, esquecer qual é o meu verdadeiro reflexo. Quero esquecer tudo que acho saber sobre mim; vontades e raivas, doenças, vergonhas. Quero tudo isso de novo, todas as feridas abertas e o sangue correndo na pele e fazendo-me enxergar de uma vez. Enxergar tudo isso, o que posso extrair de mim, posso alcançar nos outros, nas infinitas expressões que cruzam meu caminho e só me atiçam a vivacidade que anda perdida em algum lugar de mim. Quero tua pele, suor, cólera e todo o toque obsceno que tu carregas consigo. Quero o melhor e o pior de mim apenas para lhe entregar, lhe devorar de pouco em pouco. Abra essa porta, essa mente, esse desejo latente por fôlego quente afagando-lhe por inteiro: deixe-o correr por cada centímetro de você. Deixemos, todos nós. Que nada cale, nada domine essa fagulha e a impeça de transformar-se em chama, em incêndio d'alma, da carne louca por mais um mísero toque sequer.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 09/09/2014
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