Entregue

De verdade, não dá para pensar em nada que eu não goste em você. Acredita em mim, você é a perfeição. Ao menos olhando daqui, de longe, na espreita, tu pareces ter tudo que posso precisar numa vida. Que quero e nem ao menos chego a merecer.

Qual o sentido disso? Porque, de todos os rostos, das vozes e dos toques, fui me apaixonar logo pelo teu? Tu podias ficar aí em teu mundo, teu lado do muro sem me tentar, sem dar-me essa vista provocativa, maluca que serve só para tirar-me dessa estúpida certeza de sanidade. Eu a odeio. Odeio isso, essa prisão que é saber, conhecer e controlar-se o tempo todo, ver o próprio reflexo e dele conseguir nada de novo, de belo, real.

Só no ilusório que consigo-me enxergar de verdade. Apenas lá que tenho algum valor, algum gosto para oferecer-lhe, alguma verdade reluzente, que valha a pena ser contada. Aqui sou só história. Pose, mísera vaidade, mentira que nem eu mais quero acreditar. Quero mudar; quero ser tudo que tu precisas aqui, quero abraçar-lhe em meio à essa multidão, essa sujeira da qual faço parte.

E por aqui tu não deverias andar. Mas anda. Anda, vive, sorri e maltrata, delicia de longe, faz vontade, machuca e dá prazer. Para o inferno com isso. Com a barreira, com o receio, com seja lá aonde devo dar ou não meus passos contados de vez-- não deixarei mais tu ires embora. Enquanto puder, tiver forças, sangue corrente por mim, farei o que conseguir para manter-lhe aqui nem que só por um segundo.

Quero ser tua perdição, corrupção definitiva: tu és para mim no sentimento há tanto tempo já. Então que venhas, que venhas e fiques por aqui. Deixe-me sentir tudo que tu podes oferecer, deixe eu acreditar que não, não tem lógica ou razão para tudo isso; se eu te quero, isso é tudo que importa. E se você permitir, de ti já nem saio mais, não largo nem esqueço. Se você permitir, todo meu amor será seu.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 15/09/2014
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