Etéreo

Sinceramente, já não consigo mais separar esses realidades. Esses universos, essa mistura de mentira com verdade, de razão contra vontade. Não sei e nem quero; quero é a liberdade. A liberdade e tudo que ela traz consigo, de bom e ruim.

Todas as bençãos e desgraças, as corrupções do mundo tátil, sensível, assassino e de prazer que vai além do que consigo imaginar - ou descrever. Quero as lágrimas que correm pelo rosto sem nem ao menos percebermos, os toques roubados, esquecidos, rejeitados por todos que já passaram por aqui. Todas as declarações, os sentimentos de vingança e amargura, a agonia de deixar-los ir por nada além do medo.

Medo. Maldito, impossível, onipresente nesta carne, neste cerne covarde que sempre esquece do fato dele próprio ser etéreo. Isto aqui é passageiro, esta dor e esta sensação de embriaguez que anda junto. Tudo ainda ficará seco mais uma vez. Todas as vozes perderão a força, os punhos deixarão de cerrar-se e tudo em que acreditamos irá embora com o ar. Dele só temos o agora, aquele que paira em nossos pulmões e impulsiona para mais um passo, uma queda, um voo possível por aqui.

E por Deus, eu quero voar: eu já o faço nesse instante. No instante em que deixo o sangue jorrar para mais um segundo sequer de coragem, de insanidade que forço-me a permitir que exista. Preciso sufocar minha razão, nem que só por hoje. Enquanto tenho essa vista, esse desejo e consciência de nada é mais perpétuo do que a ação resultante do momento, pois se for verdadeira, ecoará na eternidade. Então só me resta isso, caminhar para que todo meu amor ecoe por hoje e pelos dias que virão.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 16/09/2014
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