Domínio

Pé com pé, a gente se entrelaça pelos dedos pra escapar do frio. As mãos fazem nós que nem tem mais como desatar, enquanto o bafo quente teu vem no meu ouvido, eu te roço com os dentes até onde dá pra alcançar. O suor nos faz pensar que está quente, que dá pra mudar de posição, mas é só abrir a fresta do cobertor que o ar frio já faz nos sufocarmos ainda mais: e a gente adora. A gente adora, ama essa sujeira toda; pele colada, voz confundida, riso que a gente nem mais sabe de quem é. Ah, traz isso de volta pra cá. Traz o teu gosto, teu gozo, tua vontade descabida pro meu lado de novo. Eu amo demais isso tudo. Amo cada sensação que tu expressas, cada suspiro e piscadela que eu nem consigo entender. Eu amo o que você me mostra, deixa eu sentir, agarrar, fingir que possuo. Adoro quando tu me possues de volta também-- quando fica naquele silêncio perfeito só soltando teu ar e teu sabor em mim até tirar-me todo o ar. Amo a pessoa que você é por completo. O que fala, brinca, mente. Amo tua cara-de-pau querendo me fazer cair na tua conversa; amo a cara boba que faz quando acha que acredito. Amo tudo que tu me deixas fazer parte. E amo desde o início, antes disso tudo, de sentir um só pedaço de ti. Teu nome, teu toque, ingenuidade insuportável. Adoro tua malícia temerosa também. E adoro ainda mais quanto a sinto de verdade correndo por mim. Veja bem, eu não lhe peço nada desse amor de volta, deixa ele comigo. Só me mata a sede, a vontade, a necessidade de sentir algo de verdade. Deixa a estupidez do sentimento toda pra mim, eu aguento. De ti eu só peço o prazer pra me lembrar depois, pra fingir que tu sentes algo também nisso tudo.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 05/10/2014
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