Permanência

Eu me joguei nesse inferno todo, é. Redemoinho, furacão. Fui tão estúpida, como é que pode? Eu não só deixei você fazer de mim o que quisesse, eu pedi. Implorei, berrei e deixei todas as portas mais do que abertas, escancaradas para tu entrasses e fizesses de mim a bagunça que bem entendesses. Mas eu também tenho a minha parcela de culpa, eu sei. Eu quis isso, afinal de contas-- a bagunça não foi tu quem fizeste. Fui em quem joguei tudo pra todo lado, esperneei, gritei e achei que lhe encantaria com toda essa abstratização de merda. Que idiota, meu Deus. Era disso que eu achava que tu precisavas, dessa sujeira? Esse lodo, essa raiva, rabisco cheio de linha torta, sem rumo, sem cor. Nada. Tu mereces mais do que isso, meu amor. Ah, se merece: e como eu queria poder lhe dar! Dar-lhe tudo que lhe é de direito irrefutável, que teus olhos pedem sem tu nem ao menos perceber. Deixa eu só continuar tentando, então. Deixa eu me jogar, eu cair e me arrastar mais um pouco, acreditar que, quem sabe tem algo aqui comigo que valha a pena lhe mostrar. Vai que te encanta, vai saber. Se tu me fisgaste assim, jeito tão despretensioso, sem medo, sem razão, como diabos posso entender o que tu realmente queres? Sei mais de nada. Sei só que, se tu estás aqui por agora, é a minha maior felicitação, e eu não irei jogá-la fora. Que morra, que tu mates o sentimento da pior maneira possível que for, mas que seja real; caso contrário, eu vou acreditar. Vou dar tudo de mim para mantê-lo, senti-lo por nem que só mais um segundo, uma fração de momento em que eu possa gravar teu gosto comigo mais uma vez.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 07/10/2014
Reeditado em 07/10/2014
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