Confiança

E mesmo se eu quisesse, se eu tentasse de todas as formas possíveis, eu não conseguiria descrever um terço disso para você. Não saberia de maneira alguma como lhe dizer, lhe fazer entender uma mísera fração do que carrego comigo desde o primeiro dia, do primeiro sorriso, palavra vazia que tu jogaste na beira dos meus lábios.

É cansativo; é exaustivo isso, esse fardo de levar comigo tudo isso, todo esse caos, esses sonhos e desejos sufocados, essa pseudo-poesia sem significado algum, apenas decorada para, sem sucesso algum, tentar impressionar teus olhos de algum jeito. É uma dor, um peso nos ombros que vai além do que posso tentar dissecar para você, afinal, tu conheces nada disso.

Nunca teve disso, sempre foi o carregado, o amado, querido por quem passava ao teu lado. Eu fui só mais um par de olhos carentes, com vontade de possuí-lo que deu seu jeito de fazê-lo. E não me arrependo: por mais que me rasgue, arraste por todo esse tempo e todo esse chão, meu amor, eu posso lhe dizer com toda minha voz o quanto vale a pena.

Vale naquele segundo em que meu suspiro é mais profundo e mais caloroso do que tudo que penso, em que o toque supero os receios, em que o sorriso vem sem tentativa alguma. Em que tenho-lhe em meu abraço sem esforço, em que uso de toda força em mim para segurar-lhe e fazer-lhe sentir pertencente à mim, nem que só naquele instante.

Nada vale mais do que isso. Do que o riso jogado, o desejo descabido que solta-se no espaço entre nós e entrelaça nossos dedos, nossas vozes e respirações. Nada vale mais do que, só por aquele momento, não sentir mais nada ao redor e ter essa plena consciência de que sim, sou eu quem está contigo. Quem tu queres que esteja, quem tu escolheu para estar. Que de algum jeito, meu semblante te cativou e combinou com o teu, que essa insanidade da ilusão pode, de alguma maneira, projetar-se na realidade. Ainda que falha, que cheia de riscos e erros pelo seu contorno, ela é possível, tangível e sim, maravilhosa. Deliciosa ao toque, a lembrança, ao dilacerar todas minhas certezas inúteis e apenas colocar-me contigo sem fronteira alguma para impedir.

Então que venha a dor, que jogue-me desse abismo de uma vez, eu a aceito. Contanto que possa sentir-lhe mai s um pouco, que consiga enxergar, mesmo que distante, um horizonte onde tudo que sinto e quero de ti, para ti seja possível sem limite algum. Em que eu possa lhe amar sem contestações e sentir de ti alguma verdade, algo que faça-me permanecer de vez contigo, com todo o medo vontade que exista em mim; prove que existe um porquê e eu lhe prometo, nada jamais irá fazer-me hesitar novamente.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 21/10/2014
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