Composição

Você é a coisa mais bonita que eu já vi. Que eu jamais pude imaginar, querer, acreditar que pudesse ter lugar em meu mundo. Entenda, lugar tem, tem todo espaço para ti aqui. Mas de todos os solos e céus, sóis e seus raios para todos os lados, quando seria que tu escolherias para ficar aqui, comigo? Aqui, com minha respiração roçando-lhe o pescoço, minha pele arrepiando-lhe de leve, minha voz tentando, inutilmente, te acolher? Nunca. Nunca que teus olhos iriam achar-me nessa vastidão toda, que eu, de algum jeito, projetaria-me em teu caminho e faria-o parar para admirar. Não, eu não sou dessas, nunca fui; essas belezas reluzentes, insanas que lhe puxam, obrigam a querê-las e amá-las sem ao menos deixá-lo escolher. Minha beleza, por mais errônea que seja, ela existe-- mas não possui ninguém. Requer-se mais do que segundos, do que vontade para vê-la: ela esconde-se. Esconde-se em medos, em buracos e fendas no chão. Em incertezas e sonhos estancados pela consciência que simplesmente sufoca-me da menor respiração. Mas tu não passou por aqui. Não esperou-me suspirar mais uma vez e nem o fará, eu sei. E está tudo bem, eu lhe prometo: tu, sem nem ao menos tentar, deu-me todo o fôlego que posso precisar por agora. Por hoje, pelo momento em que lhe vejo e quero nada além de projetar-me ao teu lado, soltar nem que só um resquício de mim para tu conheceres-me de vez. Para ver se, quem sabe, nossos rostos combinam, compõem uma imagem de beleza singular, beleza nossa. Beleza com todas tuas falhas que me encantam e meus delírios, devaneios cheios de poesia barata prontos para te fisgar. O que eu quero é toda minha paixão, e o vestígio que libero, ah, este é o meu amor. Deixe então, nem que de pouco em pouco, eu te amar. Como eu souber e ousar deixar-lhe conhecer do que explode, incendeia e transborda dentro de mim.