Orgulho

Meu bem, vê se não faz isso. Não agora, não comigo, não aqui. Seja você, seja toda a repugnância que tu podes me mostrar, eu não me importo; aliás, eu a quero até. Quero tua verdade, mesmo que ela me rasgue. Quero a minha verdade, mesmo que ela seja meu fim. Porque eu sei que vou nascer de volta. Sim, tu apareceras aqui e mudou tudo, trouxe esse horizonte louco, difuso para cá. E eu lhe agradeço. Agradeço por todas as raivas e os sorrisos, o choro estancado e o riso que eu não conseguia e nem queria controlar. Tudo bem, eu te juro: eu aceito esse fim. Aceito toda a dor, todo o chão de que terei de levantar, só lhe peço que conte-me agora. Eu caminho, caminho pelo solo que for, mesmo que tu não estejas mais por aqui. Te quero, é lógico. Te amo, talvez. Mas teus olhos mostraram-me isso tudo desde o início: mostraram-me a dor e prometeram um ardor, um prazer que eu apenas não podia recusar. Entreguei-me, mas não cegamente. Entreguei-me com toda a consciência, todo o receio borbulhando-me por dentro, toda a fagulha entre o querer possuir-te por definitivo e o fugir, desaparecer da tua vista antes que não houvesse mais saída. E agora tu vais embora, eu sei. Eu deixo, solto-lhe a mão, aceno de longe-- não tem problema. Só peço-lhe que jogue-me no chão enquanto ainda posso levantar, posso arrastar-me para outros pés, cair em outra sombra bonita feito a tua. Não me deixe morrer assim, aqui; só olhando para ti na surdida e tentando decifrar o teu caminho. Suma, leve teu cheiro, teu gosto e sorriso cheio de artifícios prontos para degolar-me no ato. Eu morro de vontade, mas não de excessos. De querer-te, mas não pelas tuas mãos, não. Essa glória tu não terás sobre a minha pele, isso eu lhe prometo.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 25/10/2014
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