a vida é uma cigana paralítica

talvez a vida seja essa colisão abrupta entre trens bala lotados de mediocridade mais do que de engrenagem

talvez seja o observar estático ao avistar pardais monocromaticamente levando embora o encanto, pousando tristemente em fios elétricos e morrendo eletrocutados

hilstianamente pensando, deus é uma superfície de gelo ancorada no riso, uma noite escura, infinita, ou só um flamejante sorvete de cerejas (que certamente alguma atendente tratará de estragar cobrindo com chocolate granulado)

ah! o deslumbre da ilusão de fazer a lua a dona de toda a mágica, já que debaixo do sol tudo é inútil

de procurar abrigo em palavras novas e bonitas e inventar novos vocabulários se for preciso pra encontrar algum foco que explique as falhas as fraquezas o vazio e a falta de vontade

remédios

comidas

lençóis brancos

pilhas de papéis sobre a mesa

beber até cair

o cerne do vazio deve ser preenchido pelo som dos suspiros dos desistentes e pelo grito dos que ainda não se admitiram fracassados

a vida é isso que me faz ser megalomaníaca da morte

ou talvez seja apenas o reflexo da fala daquela cigana paralítica, que ao me ver num banco da praça fazendo um homem e sua paixão de subterfúgios não respeitou meu desvario colorido

me olhou tristemente nos olhos enquanto dizia pra ele:

"ela tem o coração puro, purinho, mas não é pra você"

se eu carrego uma certeza comigo, é a de que ciganas paralíticas sempre estão certas

Keuri Caroline
Enviado por Keuri Caroline em 01/11/2014
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