a vida é uma cigana paralítica
talvez a vida seja essa colisão abrupta entre trens bala lotados de mediocridade mais do que de engrenagem
talvez seja o observar estático ao avistar pardais monocromaticamente levando embora o encanto, pousando tristemente em fios elétricos e morrendo eletrocutados
hilstianamente pensando, deus é uma superfície de gelo ancorada no riso, uma noite escura, infinita, ou só um flamejante sorvete de cerejas (que certamente alguma atendente tratará de estragar cobrindo com chocolate granulado)
ah! o deslumbre da ilusão de fazer a lua a dona de toda a mágica, já que debaixo do sol tudo é inútil
de procurar abrigo em palavras novas e bonitas e inventar novos vocabulários se for preciso pra encontrar algum foco que explique as falhas as fraquezas o vazio e a falta de vontade
remédios
comidas
lençóis brancos
pilhas de papéis sobre a mesa
beber até cair
o cerne do vazio deve ser preenchido pelo som dos suspiros dos desistentes e pelo grito dos que ainda não se admitiram fracassados
a vida é isso que me faz ser megalomaníaca da morte
ou talvez seja apenas o reflexo da fala daquela cigana paralítica, que ao me ver num banco da praça fazendo um homem e sua paixão de subterfúgios não respeitou meu desvario colorido
me olhou tristemente nos olhos enquanto dizia pra ele:
"ela tem o coração puro, purinho, mas não é pra você"
se eu carrego uma certeza comigo, é a de que ciganas paralíticas sempre estão certas