Sou louco

Sou louco
Sou louco, na louca medida que me faz aceitar e ser conivente com a realidade que aqui está.
Sou louco, na loucura ignorante de crer que não sou, em nada, culpado com o que aqui está.
Sou louco, na sã alienação dos que se creem acima ou fora da realidade desumana a que relegamos uma infinidade de irmãos em espécie.

Sou louco, na louca loucura da doentia insanidade que nos ilude e nos faz crer que é possível ser feliz enquanto crianças amargam a dor do abandono e da exclusão social.

Sou Louco. Quem sabe um sábio, aquele irresponsável, que por alienação, ou sublimação, não sofre junto com todos os que sofrem, aquele que não consegue real empatia com a desesperante realização do viver sofrido de muitos, aquele que não se sente realmente responsável pelo que faz e mais ainda pelo que não faz, aquele que consegue se esconder em templos, salas de estudo, retiros, mas não consegue realmente se expor, lutar, e buscar transformar esta nociva realidade social que aos poucos destrói, ou já destruiu, o que de mais humano poderíamos ter que é a empatia pelo próximo, o amor desprendido por todos, a coragem de estar do lado, e ao lado dos abnegados excluídos e explorados, e de forma comprometida doar-nos de peito aberto pela construção de uma sociedade responsável, realmente social, humanamente equilibrada, pois que não somos nós, melhores ou maiores que a própria natureza. Não, sou um louco, mas não quero ser sábio, pois que enquanto existe loucura, posso transformar-me, quando chegar a ser sábio, serei um verme social que estará perdido para o humano, pois que se salvou para a cultura, para si mesmo, e para a insensibilidade.
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 23/11/2014
Código do texto: T5045900
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.