Afeição

Teu nome é sinônimo de tudo que me enrola a língua, sabia disso? De todo palavrão desconhecido e todo prazer louco que ainda não tive coragem de proferir. Toda a vontade escondida que possa caber em mim, todo o medo que expresso com o mais imbecil do orgulho oco, vazio. Teu nome, teu toque é ruína na hora, no ato. O que tu fazes comigo, minha pele. Meu cerne, consciência, tu nem ao menos sabes; no segundo em que lhe sinto, sou nada além das barreiras receosas que obrigo-me a construir. Mas é no momento seguinte, depois de tua ida daqui que enxergo toda essa paisagem, essa loucura. Que raios faço andando lado a lado de tua sombra, vê se me explica. Ilumina, dá alguma resposta para a maldita racionalidade que não me permite apenas possuir o que o instante me oferece. Não tem como entender, é tudo caos, queda, fim. Eu sou o fim quando estou contigo, o fim de tudo isso. Todo esse inverno, inverso de ideias, de saber: sou o fim de minhas fortalezas e o início da lava fervente, do vento cortante deste voo sem explicação. Sou vítima e culpada, sinto a dor, o horror e o prazer disso tudo. Sou o que deixo tu fazeres comigo apenas para gritar por socorro depois. O socorro do abraço, do canto, do acolho. Da vontade, necessidade de tê-lo por aqui nem que por um segundo, uma eternidade presente no instante em que a respiração é mais alta do que as certezas gritantes, incessantes em minha mente. Esse segundo é tudo que tenho e que quero, posso pedir para mim. Ele carrega-me e joga-me aos teus pés dia após dia, com todo o corte e delírio que consigo conciliar comigo antes do enlouquecer. Enlouquecer contigo, por ti, hoje e sempre, enquanto essa mísera eternidade perdurar por aqui.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 24/11/2014
Código do texto: T5047432
Classificação de conteúdo: seguro