Escarlate

Calma, vê se me escuta e entende o que eu digo duma vez: vai passar. Todo esse cenário louco ainda vai se refigurar um monte de vezes, vai te confundir quando, vê se pode, você achar que tem tudo na palma da mão. Então não vale a pena toda essa dor agora, é tudo que quero lhe dizer. Vale de nada. E tudo aquilo com que tu sonharas, aquele monte de loucura que tu imaginaras naqueles dias? Já faz tanto tempo, eu sei. Parece uma eternidade, parece outra vida. Teu rosto era outro, as linhas de contorno do teu corpo, o tom rouco da tua voz, tudo isso se refez com o vento corrente e os passos que tu destes aqui e esqueceu de contar no caminho. Tu sempre foi destas que entendem, que sabem, que sonham. O momento nunca lhe foi de valor algum: só sabia abrir os olhos para tentar enxergar nem que um centímetro além do chão onde pisavas na hora. E nem adianta tentar mudar, negar isso em ti, eu lhe garanto-- o que tu tens de belo, de bom consigo veio daí, de todo teu caos. Tua rosa é daquelas envolvidas por espinhos, mas teu vermelho é dos mais vibrantes, quase cegantes que existem. Teu vermelho é dum calor surreal, portanto, cultive-o consigo. Não deixe tua cor ceder ao opaco, ao tempo, ao mosaico de tons em sépia que lhe cercam. Tua forma e nome, esses ninguém poderá possuir. São riqueza que vai além do medo, da euforia do instante que tu tens agora, ela ultrapassa tudo isso. Ela é maior que ti, ela é o que sonhas no segundo em que ninguém lhe vê, encontra por aí para fazer-lhe esquecer da poesia que carregas com todo esse cuidado.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 01/12/2014
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