Pertencente

Meu querido, será que você ainda não entendeu? Eu não quero nada disso para você. Não quero agitar esses teus medos, teus grilos e inquietações, de jeito nenhum. Tu sabes que, no momento em que bati meus olhos em ti, vi nada além da mais pura da tua beleza. Não vi horror, não vi passado, nem quero ver agora. Aceito-o, é claro. Aceito cada fração imperfeita e dolorosa que vem contigo. Mas não é com isso que preocupo agora. Eu amo o que tu fazes-me sentir. O lugar em que me põe, o mundo que me mostra. Ora, tu nem ao menos sabe que o fazes, eu sei. É sem querer, é apenas com teu mínimo passo e palavra, sílaba e gosto que escapas de tua língua para dentro do meu ser, é nesse menor momento imperceptível que tu me dás todo esse universo. Eu não quero dizer que o amo, eu não posso fazer isso; mas meu bem, eu jamais quero fugir de você. Dua tua imagem, tua promessa. Do que tu fazes-me enxergar ao apenas estar na minha frente, diante de meus olhos. Eu não quero deixá-lo ir. Quero que tu voes, corras, vás para longe daqui. Quero acompanhá-lo; quero poder ser tudo que tu precisas, mudar minhas bases, meus fundamentos mais concretos apenas para dar-lhe o conforto, o chão que mereces para pisar. Tu não és perfeito, não és cura nem salvação, sei disso também-- foi a tua humanidade. Teu reflexo difuso, bonito, difícil de descrever, foi a combinação de teus erros com teu cheiro, teu sabor que exala prazer, exala deleite de longe, foi isso que prendeu-me a ti. E eu posso ir embora a qualquer hora, de verdade. Mas por hoje eu não quero, hoje eu quero segurar-lhe entre a pequenice de minh'alma, meus braços nem que só por mais um segundo. Quero acreditar que lhe pertenço e mereço tua graça, tua vontade em sua síntese. Eu amo o que sou por ti, e isso eu simplesmente não posso jogar fora agora, nesse instante em que só vejo você em cada canto dessa sala escura.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 05/12/2014
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