Oferta

Tu destruístes a pior parte, a mais putrefata parcela de mim. Por isso, querido, lhe sou grata; aguento tudo, aceito o que aparecer em minha frente agora. Aceitei-lhe por necessidade, dever: eu apenas não podia continuar esfaqueando-me daquela maneira. Maneira maldita, discreta, imperceptível até. Tu vieras de repente e mostrara-me tudo que precisava ver, merecia, queria. Tu me destes todo o fulgor que minh'alma necessitava para mais um mísero passo adiante, e eu te amo por isso. Amo o que fizeras, amo cada gosto, cada ação. Amo teu gesto indiferente, amo teu medo, tua dor que tentas inutilmente disfarçar no teu sorriso hipnotizador. Teu olhos, olhar, seja lá o que for: algo a teu respeito simplesmente captura-me sem nem ao menos dar chance de fuga, defesa, corriqueira de coração cauteloso. Eu te quero aqui e não posso lhe ter; e minha maldita força implacável, de guardas sempre atentas, sempre aqui jamais deixarão tu encostar em seja qual tal riqueza eu possivelmente esconda-- mas eu queria poder fazê-lo. Queria dar tudo de mim ao instante, a ti, ao que tu tens em tuas pretensões afogadas em malícia, em dor alheia que nem é da sua conta. Teu gosto faz-me esquecer de tudo isso, toda essa maldita razão. Eu apenas quero sentir cada centímetro que tu me concedes, quero doar toda minha infinidade ao vazio de tuas propriedades. Para o inferno com as idealizações que tua voz colocara em minha cabeça, eu amo é o teu sabor. Eu amo o que tu fizeras me enxergar assim, simplesmente sem aviso, de repente, sem trégua ou piedade com todo meu receio insistente.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 08/12/2014
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