Dizeres

Penso se ainda dá tempo, sabes. Se, vai que, ainda tem como darmos um jeito de consertar tudo isso; de eu não mais atracar-me em tuas teias, não pedir mais pela tua armadilha. Se podemos ainda encontrarmos com aquela casualidade opressora, infeliz, deliciosa do início. Eu te quis desde o primeiro momento e tu sabes disso; tu foras vítima disso também. Não de mim ou do que tentei tão desesperadamente fazer-lhe ver ou sentir, isso não: mas ao que, até mesmo sem querer, fiz-lhe submeter. Tu conheceras a minha vida, conheceras-me como jamais pensei em dar permissão a alma, corpo algum. É um amor louco esse que inventei de ter por ti. Tu deras me uma fração de dor que, ao comparada ao prazer e jubilo, deleite daqueles dias e noites, afagos ainda recentes, é até mesmo imperceptível. Eu não me importo, eu gosto da cicatriz. Eu gosto da marca que tu deixaras aqui comigo, em minha pele. Eu só não quero admitir que o fim já chegaste ainda. Ora, e todas aquelas vezes que eu lhe disse adeus? Tu ficaras. Permaneceras e destes-me tudo que possivelmente precisava nesta carne. Então para o inferno com fins e começos, apegos e desistências por um mero sentimento que veio e reviveu-me de tal maneira-- carrego-lhe comigo dia e noite, em qualquer passo que dou neste chão já tão rachado, tão fragilizado. Se tu apareceres em meu caminho, prometo não lhe soltar. Só dê-me o teu perdão, só não afogue-se no medo que deixei escapar de mim e tapou teus olhos de todo o encanto que sempre tive por você. Amo o que tu me destes, e disso jamais largarei. Pode ir, mas volta; feche teus olhos mas abra-os de novo aqui nem que só mais uma vez, dê-me o prazer de fitá-los com fome, com vontade perpétua e insaciável pela tua beleza enquanto eu aguentar tal peso, tal necessidade de admirá-lo enquanto sei que nunca irei possuí-lo de uma vez.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 15/12/2014
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