Por um mundo onde silêncios sejam ouvidos.

Eu era uma pessoa doce. Dizem (as más línguas). Até consigo ver alguma esperança no olhar nas fotos de antigamente. Às vezes, tento encontrar esse mesmo olhar no espelho. Às vezes, até acho que encontro. Mas logo passa.

Paciência, por outro lado, acho que nunca tive. Das lembranças (e sonhos/pesadelos/sei-lá-o-que) que sempre tenho, a mais forte é de minha mãe dizendo “Deus te dê paciência” na hora em que lhe pedia a bença (bênção!).

Acho um pouco estranho eu não lembrar de como eu era. Do que, em mim, é novo. Do que sempre existiu. Do que herdei, do que roubei, do que criei. Na verdade, é triste. Fico pensando até que ponto eu sou o que acho que sou. Até que ponto o que eu penso e tenho e sou (ou penso que tenho e sou) é de verdade. Até que ponto eu sou de verdade.

Uma vida (?) cheia de achismos...

Quando eu tinha 6 anos, minha casa “pegou” fogo. Não sei. Não me perguntem. Não sei como. Me perguntei isso a vida inteira, e cada “gente grande” da época me diz uma coisa diferente. Na adolescência, alguns amigos chegaram a cogitar a possibilidade de que eu mesma tenha provocado o incêndio. E eu ficava pensando se não teria mesmo sido eu. Sempre gostei de fogo. É lindo, não?! Mas eu só tinha 6 anos. E acho uma loucura (violenta) pensar numa menina de 6 anos lascando fogo numa casa.

Não sei como. Nem o que. Mas, depois disso, mudei.

Dia desses, chorei por dentro (e cheguei a transbordar, sozinha, em silêncio, em segredo) quando minha mãe olhou uma foto minha e sentiu saudade da minha doçura, da minha delicadeza. Da minha “santidade”, talvez?! E eu lamento tanto não conseguir voltar a ser o que todo mundo gostava.

Eu cresci “sozinha”. Por opção, eu acho. Por me dar melhor comigo mesma que com os outros. Por, talvez, não aguentar mais as pessoas dizendo que eu sou grossa e que sentem saudade de como eu era. E eu não lembro. E também cansei de pedir desculpas por isso.

Hoje, evito esbarrar em pessoas quando meu corpo está muito irritado. Claro, nem sempre é possível. E o meu corpo está sempre irritado. Mas o silêncio cabe tanto nessas horas. E as pessoas não conseguem (ou não querem) entender isso. E insistem pela minha voz. E eu acabo, então, sendo “grossa”. E jogam, então, minha doçura perdida na minha cara. Não me escutam, quando tudo o eu preciso é ser ouvida. Mas não respeitam o meu silêncio quando tudo o que eu quero é silêncio. E esperam serenidade de uma mente tão barulhenta.

Eu não fiz muito sentido. Eu nunca fiz muito sentido. Só quero um pouco de paz. Carregar o “mundo” nas costas, sozinha, em silêncio... o meu mundo! Não preciso de bagagem extra. Então, paz. Isso não é ser louca. É ser humana. É precisar de espaço, de liberdade, de compreensão. Ou só de paz.