ENCANTO

Ouço a chuva cair de repente, um som misturado de água, vento e folhas...dança arrítmica que nos sugere uma renovação constante em seus acordes. Ouço meu coração pedindo um simples amor, uma canção que aperta o peito e faz chorar minha teimosia em ser apenas passageiro. Azul, minha cor dos sonhos, acinzenta-se diante das pinturas que o céu oferece, nuvens brincalhonas, inventivas, mágicas, enganadoras, pois que seja, meu azul cinzento, meu amor escondido, minha música do silêncio. O mundo corre tentando marcar limites, mas meu limite é minha vontade...de cantar meus sonhos, quero dançar as ilusões de uma embriagues apaixonada, como se fosse essa dança, minha primeira namorada. A chuva ensaia um poema, seus versos explodem nas poças que se avolumam, criam ondas de desejos, sou homem por inteiro, neste momento de alegria, de poesia, onde o poeta é anjo enquanto cria uma verdade, mesmo que de mentira. Porque somos o sonho que imaginamos viver, somos as rimas que não inventamos, somos o original que a natureza perdeu, quando nos deixou usar a razão como fonte de inspiração..., deixou os sonhos se formarem como hologramas que saíram da combinação de números e não do som das gotas estruturando as notas de uma partitura. Espero ter cantado até o fim esse meu amor, antes que a chuva passe e o sol ilumine alguma outra verdade sem nenhum encanto.