Afinal, o que é ética?

É muito comum tratarmos ética como se fosse moral ou a moral como se fosse o mesmo que a ética. Isso ocorre porque além dessas palavras tratarem de aspectos relacionados à conduta humana elas possuem uma origem etimológica muito semelhante.

Etimologicamente a palavra ética deriva da palavra grega ethos que significa modo de ser, caráter ou costume. Já a palavra moral deriva da palavra latina mos ou mores e também significa costume, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito (Sanchez Vazquez, 2013).

Mas embora a primeira vista elas possam parecer a mesma coisa, as palavras ética e moral possuem aplicações muito distintas. De acordo com Cenci (2001), a moral está relacionada com costumes, valores e normas válidos para um determinado contexto histórico e cultural. Ou seja, quando falamos de condutas morais, estamos falando de condutas concretas situadas num momento histórico específico, que é fortemente influenciado por valores e normas locais e que referenciam ou indicam o modo como se deverá agir neste determinado contexto histórico e cultural.

Em contrapartida, a ética corresponderia a um modo de refletir formalmente acerca dos princípios que legitimam a conduta humana de modo geral, ao invés de avalia-la tão somente na sua ação concreta situada em um determinado contexto histórico e cultural.

De acordo com Valls (2013), a ética é tradicionalmente entendida como o estudo ou a reflexão sobre os costumes e as ações humanas numa perspectiva cientifica, filosófica ou até mesmo teológica. Para este autor o estudo da ética é também o estudo aplicado da liberdade humana em suas implicações individuais e coletivas quando exercida na realidade concreta.

Tanto para Valls quanto para Cenci (2001), falar de ética não é tratar apenas dos costumes ou de valores humanos tomados de modo isolado, pois estes podem ser mais ou menos provisórios de acordo com cada período histórico e cada cultura em especial. A ética é o exercício de uma justificação crítica que busca entender não apenas uma conduta moral de modo isolado, mas principalmente aquilo que deveria ser levado em consideração para tornar esta conduta moral um comportamento universalmente válido.

Segundo Valls, quando se reflete eticamente sobre as condutas humanas busca-se “resolver as contradições entre necessidade e possibilidade, entre tempo e eternidade, entre o individual e o social, entre o econômico e o moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e o cultural e entre a inteligência e a vontade” (2013, p. 56).

Desse modo, quando falamos sobre ética nós estamos falando sobre um modo de refletir criticamente sobre as condutas humanas de modo geral, mas sempre em busca de consensos universais que satisfaçam princípios humanistas essenciais como o respeito incondicional à dignidade humana e a busca por um ideal de conduta justa que alcance o maior benefício e o menor prejuízo possível para todos.

É importante salientar esse fato porque embora as condutas morais humanas sejam relativas a um determinado momento histórico e cultural e por isso elas devam ser relativizadas a partir deste momento e lugar específicos, a função da ética aplicada é justamente desenvolver a nossa capacidade de ampliarmos a nossa reflexão sobre os fundamentos dos valores que influenciam as nossas tomadas de decisão, a fim de buscarmos soluções universais para os inumeráveis dilemas morais presentes em cada conduta humana do nosso cotidiano.

Referencias:

CENCI, Ângelo Vitório. O que é ética? Elementos em torno de uma ética geral. 3ª ed. Passo Fundo: A. V. Cenci, 2001. 87 p.

SÁNCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. ÉTICA. 35ª ed. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2013. 304 p.

VALLS, Álvaro Luiz Montenegro. O que é ÉTICA. 9ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 2013. 88 p.