Microscópio

Como que, de corpo tão pequeno, receoso feito o meu pode caber tanta afeição? Não dá para entender. Eu mal lhe conheci e ouvi tua voz e assim, de repente tu tornou-se não parte do meu mundo, mas ele por inteiro. Querido, desconhecido, vê se entende: eu não estou iludida. Eu sei do espaço e dos segundos, de tudo que nos envolve involuntariamente. E sei do meu quase inexistente espaço em tua vida também. Da sombra, do vulto que sou. Mas tu me encantas os olhos, que mais posso fazer? A visão de ti em meu mundo, meu solo, isso é de entorpecer-me por inteira. Tu estás longe, tu mal sabes de mim, tudo bem. É para isso que vim, corri e cantei: para treinar melodias infinitas para fisgar-lhe nem que por um eco, um grito no deserto que, por nada além de sorte e vulgo milagre, alcance-lhe e dê esta oportunidade de oferecer meus versos e camadas, matizes falhas e cheias de colo para ti, tua figura tão nítida e dolorosa, perdida em tuas cores infinitas.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 02/02/2015
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