Desabafo

Queria poder maquiar alguns sentimentos, fantasia-los com um cariz menos agressivo, por dentes brancos neles, e deixar que sorriam para mim, todos os dias. Mas tem dores que acumulam , dentro do peito, que chega uma hora que explode, e é sempre com as pessoas que nada tem a ver com aquilo. Minha mãe é um exemplo, se preocupa tanto com o meu bem estar , mas ela só quer conversar comigo, quando não estou no mesmo mundo que ela. Teve dias que acordei , apenas por que serpentear no sofá , estava acabando com minhas costas, e lá na mesa entulhada de louça por lavar, estava o meu café, e minha mãe sorrindo dizendo "Bom dia filho". Eu me sinto péssimo, quando não quero responder, não gosto quando ela me agrada, me sinto um cão recém chegado em casa, com pena de si mesmo, por só ele saber o que ele passou na rua. Minha mãe não sabe a metade de minhas lamúrias, pensa que 80 % é pelo fato da minha recente separação com Danila, mas é bem além que isso mãe.

Parece que o sofá daquela casa, me abraça, e é o único abraço que me conforta, porque ele suporta meu peso, sem me perguntar nada, não me deixa vulnerável a ponto de chorar , de soluçar, explicando os porquês, ele apenas esta ali para me segurar e absorver o meu choro.

A noite quando todo mundo vai dormir, eu tento escrever um pouco, falo de minha mãe, de Danila, principalmente de Danila, garota esperta de sorriso fácil, o flerte com ela não funcionava, e as cartas que eu deixava na caixinha do seu correio, já não causara boa impressão, pois eu estava triste naqueles versos. Então tento escrever sobre outras coisas, e acabo sempre escrevendo de mim, semana passada meu pai me disse "Escreva somente sobre aquilo que você conhece", pai, o que eu sei?, mal domino o português, e insisto em falar um espanhol meia boca, tentando impressionar quem lê meu currículo. Deveria colocar ao invés de experiências profissionais, por um texto pequeno sobre mim, dizendo as dificuldades que travo diariamente , para pegar o ônibus sem sofrer um derrame a cada ponto, ou como é menos doloroso ser invisível na multidão, onde cada olhar dura somente o que você permitir, ou escrever um relato de meus últimos trabalhos, mentir num pedaço de papel.

Mas aquilo nunca me tornaria num escritor verdadeiro, eu daria apenas o que as pessoas gostam de ler, esse não sou eu, mas quem sou então?, uma pergunta fácil de responder, mas que de muitas respostas ainda a serem reveladas. Continuar pelas ruas é sempre uma alternativa para ganhar um tempo, ver as mulheres nas ruas , caminhando em suas pernas gigantes, elas deixam os seus perfumes quebrarem o cheiro do cachorro quente, mas minha fome ainda esta aqui, e no bolso nenhum puto, sentar na praça é o cume do clichê, mas ver os pombos brigarem pela salsicha é saber o que sou , e o que quero ser futuramente, então sigo escrevendo e que deus me ajude.

Robert Ramos
Enviado por Robert Ramos em 03/02/2015
Código do texto: T5124529
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