Dezembro- MEMORIAL

13 de Dezembro de 2013

02:00- Pelas janelas um pouco abertas, ventos frios balançam as cortinas bejes incessantemente. Aqui estou, deitado como de costume em meu sofá vermelho, defronte à televisão, assistindo aos programas bons que ainda resistem em meio a montanhas e montanhas de inutilidades. O meu sensível estômago já emite grunhidos de alerta, quando a fome chega nesse segundo. Me encaminho até a cozinha em passos lentos e abro a geladeira. Em uma xícara que minha esposa comprara numa famosa e popular lojinha, ponho algumas colheres de cereal Neston, um pouquinho de açúcar, e encho de leite. Satisfeito, volto à minha sala e fixo os olhos em um filme que passa no Corujão.

02:45- Ouço o barulho estridente do motor contíguo à minha casa. Levanto-me por curiosidade, e avisto um caminhão alaranjado a serviço da prefeitura. Enquanto um funcionário acumula os sacos de lixo em montes a cada 20 metros, o motorista chega de mansinho e tudo é posto dentro da eficaz prensa do veículo. Penso cá comigo: quão valiosos são esses seres humanos que atravessam a madrugada com o intuito de deixar às claras cada rua dessa cidade. Com o intuito de colocarem a nossas vistas uma paisagem límpida ao acordarmos no dia seguinte. Claro, há quem poderá dizer: não fazem mais que a obrigação esses trabalhadores quase invisíveis. Mas convenhamos, o que ganham são ninharias se comparado com a árdua luta que enfrentam a cada dia. Gosto de observar cada movimento deles por essa madrugada tão solitária. O monte de frente à minha casa se finda. O rapaz responsável pelo aglomerado do lixo sobe ao veículo, e se vai para outro local juntamente com mais dois colegas. Ainda observo o percurso do caminhão até a última curva. Olho pra baixo e vejo os cães que se alvoroçam com o odor pouco agradável que infesta todo o ar. Fora esses caninos e dois gatos que se arranham no portão do vizinho à direita de casa, há um enorme silêncio nesse instante. E esse silêncio traz-me a sensação boa de absoluta paz. O filme que passara na TV chega ao fim. Acho que vou escrever um pouquinho, talvez até às três.

03:07- Não tenho sono, e as palavras não estão tão disponíveis nesse momento. Acho que por hoje acabou-se a inspiração. Nunca soube escrever nada sem ela. Passo por mais alguns canais e está complicado me deparar com algo bom. Desligo a caixa retangular de luz e sigo para a porta da cozinha. Abro-a, e Morfeu se espreguiça à vontade pelo piso da varanda. Já virou rotina: todas as noites eu venho vê-lo um pouco. Afago a sua barriga e têmpora, e ele agradece com um ar tranquilo em miados relaxantes. Às vezes, tenho-o como um ente querido. Às vezes, me esqueço que se trata de um mero felino, pois em minha concepção: há uma real interação entre nós. Ouço nitidamente as suas lamúrias, os seus pedidos constantes... E quando satisfaço todas as suas vontades, ele agradece com um largo sorriso. Ele mia num tom bem diferente agora, sobe pela mureta e some na escuridão por cima do telhado.

03:30- Ainda não sinto nenhum resquício de sono, e isso não chegaria a me preocupar se não trabalhasse virando a noite. Quase todos lá no meu trabalho, aproveitam ao máximo os seus dias em casa pra dormirem cedo, e assim compensar as perdas noturnas. Mas eu, sigo em ritmo distinto dos demais, e me faço exceção à regra. Já não tem nada o que fazer por aqui acordado, e assim eu sigo em passos lentos para o quarto. Escovo os dentes, passo um creme facial, me perfumo e paro defronte ao circulador. As minhas filhas estão dormindo como anjinhos ao nosso lado, quando olho por alguns minutos. Como pai, sinto que muitas vezes me faço rígido demais e cobro de forma demasiada algumas tarefas. Sei que quero o melhor pra minhas meninas, mas, poderia maneirar um bocado. Sinto que as cobranças diárias em relação ao escovar dos dentes depois das refeições, ao uso de sandálias dentro de casa, aos horários de almoço e janta, não diminuirá em nada o que elas sentem por mim.

03:46- Deito em minha cama, ajeito o travesseiro e me cubro até a cintura. Essa fronha com detalhes em flores me incomoda um pouco. E a flor marrom no centro é a que mais me irrita. Fecho os olhos na tentativa de chamar o sono, mas ainda não o tenho. O som do ventilador se assemelha a cantigas de ninar, e isso me agrada consideravelmente. Mas mesmo com esse ambiente de sons agradáveis e luz confortável, não sinto sono. Não caio em desespero pois sei muito bem transitar nesse mundo de suposta insônia. A minha querida esposa dorme feito pedra contígua a mim. Seu rosto alvo e sedoso parece clarear todo o local. Acaricio a sua pele constantemente nas noites em que me deito. Penso em tanta coisa agora! Penso na ausência de palavras carinhosas por todos esses dias. Penso em dar-lhe a devida atenção nas tardes e manhãs. Penso nas conversas que se escondem temerosas pelos cantos. Penso em tantas coisas frívolas que pairam sobre nós, e em vez de mostrar-se indiferente, abro a porta de meu castelo sem hesitar, e despejo rios de atenção. Penso como a amo e como a desejo! Abraço-a apertado e depois de muita introspecção: estou imerso num mundo de sonhos:

Voo velozmente por vales cujas árvores se desintegram no instante que por elas passo. Sinto alívio a cada segundo nesses ares sombrios onde me encontro. Não sei por quanto tempo estou a voar, talvez por horas, talvez por dias. Agora bem lá na frente começo a observar algo emergindo da escuridão. À medida que me aproximo, constato apreensivo que são seres desfigurados em semblantes aterradores. Tento desviar o meu percurso, mas tudo é em vão. Aqui onde estou, não há controle algum de minha parte. Algo me controla. As criaturas estão bem próximas, e quando fico a uns cinco metros delas, desço abruptamente penetrando a lama viscosa e negra...

10:00- Uma pomba resolveu construir o seu ninho bem acima da janela do meu quarto, e por causa do barulho, eu desperto ainda um pouco sonolento. As minhas costas doem bastante e a minha cabeça lateja um pouco. Levanto devagar, desligo o ventilador e vou ao banheiro. Escovo os dentes e tomo uma ducha gelada. Pela báscula eu observo a cara do tempo. As nuvens cinzentas deixam mostras de o que vem por aí. As chuvas nunca me agradam, principalmente durante os dias. Em outros tempos eu reclamava demais das mudanças climáticas, mas nesses dias atuais, não desperdiço palavras e tempo.

10:30- Saio do quarto e vejo as meninas na sala assistindo aos desenhos em certo canal. A minha esposa está lá fora esticando as peças de roupas pelo varal. Eu abro o armário da cozinha e pego a minha xícara. Sirvo-me de uma boa dose de café e ponho um pouquinho de leite. Sento na poltrona que fica na área e converso com a minha mulher. A rua está barulhenta e um carro de uvas e abacaxis trafega em lentidão por ela. A voz do anunciante é estridente e mal recebida pelos meus ouvidos. Fico irritado e dessa vez, resmungo feito um velho quando levanto em direção à sala. Pego o controle no sofá e as minhas filhas se enfurnam no quarto. Elas ligam a TV menor, e voltam aos desenhos. Assisto a um documentário sobre uma espécie que supostamente há de existir. Por quase duas horas eu fico atento às questões intrigantes e bastante interessantes. O cientista mostrava a um programa americano, indícios de uma colônia de homens-peixe, figuramente chamados de "Sereias". Em um certo vídeo, havia um reboqueiro da marinha vasculhando a área, no momento em que algo atravessa por debaixo da pequena embarcação. Os três marinheiros se alvoroçam com o que vêem, pois por questão de milésimos de segundo, a face se torna visível um pouco antes da imersão no oceano. Há um vídeo, e esse não muito convincente, onde dois rapazes avistam uma criatura que pula dentro da água, depois de estar em suposto repouso em cima de uma pedra. Nele, não há nitidez suficiente que comprove a veracidade do que se imagina ser. E muitos, até mesmo os cientistas, não descartam a possibilidade de se tratar de uma foca. Mas no último e mais surpreendente, houve uma histeria entre os cientistas, pois a nitidez era absoluta. Em pesquisas realizadas em mares russos, um submarino filmou a "Sereia" no instante em que ela pôs as mãos no vidro. Seus rosto denotava curiosidade e um pouco de apreensão. Seu corpo era esguio como um grande peixe, seu rosto em tons azulados, e os olhos fundos arroxeados. Por um segundo que pareceu uma eternidade, os tripulantes e a criatura se olharam confusos. Os sentimentos entre ambos eram totalmente distintos. Gostei demais desse documentário, e busquei mais informações em outras mídias.

12:30- Já sinto o aroma do almoço em minhas narinas. Minha esposa prepara um delicioso macarrão cozido na panela de pressão. Põe-se o macarrão Pene, juntamente com o requeijão, molho de tomate e creme de leite. Levanto-me até a cozinha e já está pronto pra se servir. Essa é a vantagem de um alimento rápido. Esse é com certeza um dos melhores pratos! Como por ali mesmo sentado à cadeira, enquanto a minha mulher coloca a comida nas vasilhas de plástico para as meninas. Antes de servi-las, são postas por minutos na geladeira para o devido resfriamento. Enquanto isso eu refaço o meu prato e vou pra sala. A minha esposa chega logo em seguida. Troco o canal e ponho num programa de esporte.

13:20- Termina o programa e vou até a varanda descansar o almoço. O meu sogro comprara uma rede por esses dias a pedido de minha filha, e é dentro dela que vou mergulhar. Permaneço esticado aqui por quase 15 minutos, levanto e vou à prateleira de vidro buscar o livro que ando a ler. Volto com ele às mãos e deito novamente na rede. Estou prestes a descobrir o que de fato irá acontecer com o Sr José e a sua paranoia pela tal mulher desconhecida.

15:30- Os meus olhos cansados imploram por uma parada. Fecho o livro e levanto em direção à mesa do computador. Recoloco-o na prateleira e sigo pra fora pra vislumbrar a paisagem. O riquíssimo mangue continua imponente com as suas raízes cinzentas entrelaçadas entre si, e submersas em águas turvas. Há garças alvas como a neve que posadas nos galhos mais baixos, figuram como estonteantes rainhas. Aglomerados um pouco mais à direita, nota-se as aves de rapina em suas asas deslumbrantes e negras, cujos bicos estraçalham a carne pútrida despejada na encosta. Alguns saguis pulam nas árvores distantes e emitem sons espetaculares. Acima de tudo isso, contíguo a Oeste, desponta o astro rei com os seus raios alimentando a todos nós.

16:15- Vou até a cômoda e pego uma camiseta vermelha. Me visto rapidamente, passo um modelador nos cabelos e me perfumo. Dou um beijo na esposa e nas filhas e calço as sandálias. Desço com a bicicleta pelas escadas em desalinho e saio pelo portão velho e marrom. Pedalo por no máximo três minutos e chego à casa de minha mãe. Como possuo as chaves, entro sem avisar e a vejo como de costume em seu branquíssimo sofá. Ela se levanta e como de hábito: deixa-me sentar ao seu lado direito. Conversamos um pouco antes dela ir fazer o café. Depois de poucos minutos, eu vou à sua cozinha e me sirvo. Há bolinhos por cima da mesa. Ponho uns seis na vasilha e sigo pra sala. Ela faz mais algumas arrumações pela cozinha, e também traz o seu café na xícara. Sentados agora, conversamos sobre alguns assuntos familiares, sobre a novela das nove e algo sobre o meu trabalho. É bom estar na sua casa. Sinto-me feliz quando por meros minutos por aqui permaneço. Às vezes, a tristeza toma conta de mim, por vê-la seguindo a vida solitária. Acho que eu não saberia viver nesse mundo. Eu contemplo a solidão quando tenho o poder absoluto pra escolhê-la. E não me imagino sendo o alvo de sua escolha. Mas mamãe não escolheu essa estrada solitária. Infelizmente há dezenove anos aconteceu o que os filhos temam que aconteça. Os desentendimentos, as brigas, os choros, a insegurança: tudo isso se resumiu numa separação.

O tempo se não supera, abranda quais forem as dores. E nesses dias atuais ela segue em sua casinha, e parece-me que se acostumou em viver só.

17:00- Despeço-me dela, pego a bicicleta e abro o portão. Sigo de volta pra casa e logo me encontro pelas escadas a subir. Deixo o camelo num canto, pego a calça, a camisa e jaqueta do serviço no varal e entro. Meu anjo se encontra de pé no salão de beleza improvisado. Trabalha com dedicação nos cabelos revoltos das clientes. Deixo as roupas por cima da cama e entro no chuveiro. Tomo um minucioso banho, e depois de uns cinco minutos, saio. Me visto apressadamente, passo a camisa e calço as botas. Nesse ínterim, esquento o macarrão do almoço e janto.

18:00- Ajeito tudo em minha mochila antes de ir trabalhar. Vou até a minha esposa e beijo-a. O mesmo faço com as minhas filhas. Antes de sair, peço que feche a porta no trinco antes de dormir. Já estou na rua indo em direção ao ponto mais próximo. Cai uma chuva fininha sobre os meus cabelos que muito me desegrada. Olho enfurecido para as nuvens negras que se formam próximas ao zênite. Me arrependo de não ter lembrado de trazer o guarda-chuva. Já estou a poucos metros do destino. Agora a chuva desce grossa e intensa. Acelero os passos. Agora dou uma corridinha de leve e chego ao ponto.

18:15- Não há muito espaço por aqui, mormente porque me parece que todo o bairro resolveu esperar a condução nesse local. Um ônibus passou direto,indiferente ao sinal de uma senhora. Eu tentei ajudar assobiando e gesticulando para o motorista e cobrador, mas os dois sorriram estupidamente. A senhora reclamava acintosamente ao meu lado. Avisto a van de minha empresa a uns cem metros. Ela estaciona um pouco distante do ponto devido a uma enorme poça de lama. Entro e sento lá atrás. Cumprimento um dos colegas de serviço e me ajeito perto da janela. Seguimos devagar até a próxima parada, onde entram mais quatro colegas. Passamos pela ponte a uns três minutos atrás e já avisto a extensa praia do riacho. Gosto bastante desse trecho, pois posso contemplar o vasto horizonte. Há alguns navios atracados que parecem pequenos pontos negros flutuando sobre as águas. Já mais próximo da praia, existe uma enorme pedra que se assemelha muito a uma baleia. É tão compensador e relaxante poder vislumbrar essa pintura que sempre se mostra disponível.

18:45- Desço por último como de costume, e prossigo para a catraca. Passo o cartão de identificação e vou ao banheiro. Penduro a mochila na janela, abro a bolsa e tiro a minha camisa do uniforme. Visto-me rapidamente, penduro o crachá no bolso esquerdo e saio. Ando pouco mais de 30 metros até ao ponto de reunião. Cumprimento os colegas mais próximos enquanto o supervisor discursa. As frases desgastadas endoçam um contexto hipócrita, que faz com que eu torça a cara em alguns momentos. A hierarquia se estabelece de maneira até sensata, compreensível. Assuntos abordados diferem do que penso em dado momento, e com a mesma naturalidade que pisco os olhos, profiro muitas palavras e teço o meu ponto de vista. Tudo flui da forma como deve ser, e a democracia agradece. Lastimo apenas por aqueles que julgam-se cegos e impróprios de tais argumentos. Possuem olhos, narizes, ouvidos, membros, paladares- sentidos esses que se tornam vãos devido a inércia de suas mentes!

19:05- Desço do veículo perto da portaria secundária. Caminho por um pequeno atalho, cujo mato, cobre quase todo o trajeto. Chego à cabine e rendo o colega de equipe. Trocamos algumas palavras enquanto eu ponho o equipamento ao meu corpo. Visto o colete, coloco a arma no coldre, o baleiro na cintura e assumo o posto em definitivo. O fluxo aqui é quase insignificante, tornando-se poucos os veículos para a revista. Volto à cabine, abro a bolsa e pego o livro de Diderot; Cartas Sobre os Cegos- Cartas Sobre os Surdos e Mudos. Leio atentamente cada página, e à medida que o texto se forma, fico absolutamente fascinado com o seu teor. Claro, há trechos complexos que confesso não entender de imediato, mas conforme releio, as palavras vão se agrupando de forma coerente em meu cérebro. Fecho o livro na página sessenta e nove. Bem no fim da estrada, avisto enormes faróis. Levanto e saio. O ônibus de uma certa empresa contratada, estaciona atrás dos cones. Cumprimento e peço ao motorista o crachá provisório. Tiro um dos cones e ele dá continuidade ao trajeto. Volto à cabine e guardo o crachá na sessão dos provisórios. Sento na cadeira e pego o tablet na mochila. Escrevo por duas horas ininterruptas, acrescentando alguma coisa em meu romance, e elaborando umas três poesias. Gosto do aparente silêncio que aqui se nota. O ambiente é propício a elaborações de textos.

14 de Dezembro de 2013

00:07- O veículo da ronda chega e me entrega o lanche. Não sinto fome por enquanto, e por isso guardo as provisões na mochila. Tomo apenas um pouco do guaraná. Faço mais algumas revistas nos carros subsequentes. Entre as obrigações profissionais, as leituras e escritas: a noite vai se esvaindo como sempre.

04:00- A chuva cessa por completo agora. E nesse ínterim, saio e fico vislumbrando o céu parcialmente aberto. Observo as eternas e deslumbrantes três marias, fixas no cinturão de Órion. Júpiter brilha intensamente entre as nuvens cinzas. Não vejo a Betelgeuse, Rígel e Saiph. Algo me chama a atenção. Um pequeno gambá atravessa a estrada velozmente, sobe pelo alambrado, e depois de alguns metros adiante, ele sobe nos galhos de uma árvore. A vida noturna soa como sinfonia em meus ouvidos! Ouço o barulhinho dos grilos, o coaxar dos anfíbios, o canto das cigarras.

07:05- Há dias que o sol não se mostra inteiro num céu azul. E nessa manhã não é diferente. A chuva fina desce quase desapercebida. O meu colega chega e me rende. Conversamos sobre futebol enquanto eu passo o equipamento. Desejo-lhe bom serviço e tomo novamente o atalho de ontem. A van está à espera do outro lado. Cumprimento o motorista e entro. Aos poucos vão chegando os demais. O veículo deixa a portaria e vai pegando o rumo de casa. Desço em meu ponto e despeço-me dos demais. Há pouco movimento nas ruas. Apenas cinco pessoas esperam a condução. Atravesso tranquilo a rua, e depois de dez minutos chego no portão de casa. Aproveito e tiro uma sacola de supermercado da bolsa e apanho um pouco de areia do monte do vizinho. Subo as escadas e Morfeu já mia alucinadamente. Converso um pouco com ele enquanto abro a porta. Tiro as botas e deixo-as sobre o muro. Tiro a camisa e jogo-a por cima da máquina. Entro em casa e pego a ração no armário. Encho a vasilha no mesmo instante que Morfeu chega. Renovo também a sua água. Depois despejo a areia no compartimento preto de plástico e fecho a porta. A minha filha mais velha encontra-se no sofá menor. Pergunto se ela escovou os dentes, e ela balança a cabeça em afirmação. Diz que não está com fome e volta a sua atenção ao desenho. Ponho a água pra ferver, lavo a garrafa e coador. Despejo sete colheres de açúcar e duas de pó. Em poucos minutos o aroma delicioso deleita-se pela casa. Tomo apenas um pouquinho e sigo para o banheiro. Escovo os dentes e tomo um banho. Deito em minha cama, e o sono não tarda a vir. Beijo a minha esposa e vou adormecendo lentamente aos sons peculiares dos pombos bem acima da minha janela.

Alexsandro Menegueli Ferreira-