Tenho o outro lado

Espelhos da nossa imaginação nos fazem parecer melhores do que somos. Os outros lados de nós mesmos não podem ser refletidos com limpidez e transparência, mas corrompem todo nosso ser e compõem a vida que realizamos, nos levando, muitas e muitas vezes, a nos ver não como realmente somos, mas como gostaríamos de ser. Passado e futuro se fundem em nosso presente, um sendo sustentáculo para o que somos, e o outro como sendo a realização do porvir que no presente construímos, e nossos espelhos mentais focam nossa imagem, no geral, naquilo que acreditamos ser, eles nos iludem e nos tornam muitas vezes vaidosos de algo que não somos. Segredos fazem de mim um ser que não consigo ver, que não consigo assumir como eu mesmo, mas que com ou sem espelhos brilham em cristais que distorcem e maculam o humano, humano este que deveria ser minha marca latente.

Mesmo no fim da minha estória (estória mesmo, não história, não a verdade daquilo que realizei como sendo eu, que construí como sendo o que sou, mas sim aquela estória que criei sobre mim mesmo, e que espero que os outros acreditem, por que eu já acredito nela como se verdade fosse), quando já a caminho do réquiem me vou, e palavras vão tentar me definir, continuarei sendo filho da dúvida, e haverá montanhosos obstáculos que carregarei comigo para o nunca mais, e que dificultarão a todos que venham a tentar me conhecer por inteiro. Sem script, sem roteiro humano, não sou a imagem que de mim faço, tenho o outro lado, tenho os outros lados, muitos lados, lados que não passam de estórias que jamais me refletirão em verdade...


Tenho os outros lados, sou todos os lados...
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 17/02/2015
Código do texto: T5140351
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