Paisagem

Eu quero é ver tudo isso girar. Girar, queimar, quero é enxergar poesia nos restos jogados do que era para atingir a perfeição. Quero a euforia sem explicação, a embriaguez de apenas acreditar naquela tal insanidade mais uma vez; quero doar cada mínima parte de mim para o instante, para seja lá o que bater em minha porta. Quero esquecer a razão e os pudores, a lógica toda que me afasta de você. Eu quero é aquela ofegação toda de quando eu fui, eu fiz, eu falei, eu corri; eu disse a verdade e deixei tuas consequências tomarem conta de mim.

Quero até mesmo a perdição daquele último momento; quero consertá-lo com a beleza do agora-- meu bem, acredite, ele está deslumbrante. Agora que tu és apenas sonho e lembrança, maldita esperança da qual eu não consigo me livrar. Não consigo e nem quero, é claro, admito. Do que me alimentarei se jogar teu gosto fora de uma vez? Não, de jeito algum, eu quero é o último resquício que conseguir achar de ti por aqui, em minha pele.

Ela não é mais seca como antes, sabe. Agora é cheia de vida, de vontade, de cor. A rouquidão da voz, a vivacidade do olhar, tudo isso reacendeu por todos os cantos de mim; não necessariamente por ti, mas pelo que tu viestes me mostrar: pelo melhor e mais escandaloso, intoxicante lado meu. Queria este veneno, esse efeito, essa loucura, mas ela nunca parecia estar ao meu alcance; meu bem, eu sempre a tive bem aqui, mas fora por ti que a deixei florescer. Não vale a pena amar entre quatro paredes; e eu adorei deixá-lo voar para fora daqui, fora de mim.

Eu amei amar você.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 09/03/2015
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