Coragem

Ela queria muita coisa, verdade. Mas olha, isso podia te jurar: desde o momento em que botou os olhos em ti, ah, não conseguia visualizar mais nada naquela cabeça corriqueira. Meu Deus, como ela o amou; ama, sim, constantemente. Apenas deu-se o ar, o fôlego que merecia, precisava. Amor, entenda, a culpa não foi tua em hora alguma. Se construiu, se edificou por tanto tempo, se orgulhou e para quê? Para deixar tudo voar, escapar de seus dedos no instante em que tu invadistes teu horizonte. Tu foras tipo presente que ela não soube apreciar, sabes? Quis possuir, quis consumir antes do gosto passar pela beirada de seus lábios. E agora imagina se pode tê-lo de volta, nem que só mais uma vez. Sonha, grita, canta, chora-- faz de tudo dentro de si para tornar-se a tal pessoa que imagina dever ser para você, embora saiba que isso não importa de maneira alguma. Carne quer carne, alma quer gente, quer voz e pensamento. Quer a chance, a mísera possibilidade de exibir-se para ti desnuda, sem vergonhas, sem receios. Quer doar tudo de si mais uma vez e abraçar a dor, deixar a vontade correr por dentro de si. O instinto, lembra dele? Aquele louco, miserável que a fez jogar as palavras daquele jeito que, vai entender, deu certo num momento. Fez tu enxergá-la e encantá-la, fazê-la acreditar.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 09/03/2015
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