Acalento

E eu ainda estou aprendendo a respirar; a contar os passos paralelos com os segundos, a dar piscadelas momentâneas para o espelho para manter nítido meu reflexo. Ainda estou aprendendo a escolher as palavras que escapam de meus lábios e as que ficam, a quando dizer ou não o que sinto e vejo de longe, ainda tentando me definir.

Mas ao mesmo tempo, desprender-me dessa maldita noção de ser um alguém absoluto; de ser quieta ou explosiva, louca ou sempre contida. Eu posso ter medo e ter desejo, eu posso querer e me repreender por todas minhas autossabotagens escondidas. Eu posso lhe querer mais do que tudo e ainda lhe assistir desaparecer a cada dia. Posso escrever mil versos sem sentido algum e chamá-los de poesia. Posso doar-me para ingratos o quanto eu quiser.

Não busco mais gratidão, devoção recíproca. De amor eu já estou lotada e ele está explodindo por entre minhas veias a cada momento: ele precisa de uma fuga. Para um amigo, um irmão, um amante, um forasteiro, que seja-- contanto que não suma mais na ilusão. Eu posso cair por todos eles, eu não posso cair mais por mim. Esse amor irá matar cada um que o reconhecer dentro de si, com certeza. Quer, então, morte melhor? É um fim, mas mil caminhos. Escolhamos que nos marcar com mais beleza, mais profundidade disfarçada de tragédia.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 15/03/2015
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