Deus Está Morto

Assim como um escravo que serviu seu dono por anos, quando é liberto, não sabe o que fazer com sua vida, um religioso antigo quando acorda, perde o rumo e a esperança. O medo da liberdade é maior do que o alívio.

Um ex escravo sabe que agora é livre. Pode mudar sua vida e arrumar um emprego, mas se lamenta pelo conforto perdido, como a comida que recebia e um teto para dormir, mesmo que antes apanhasse e trabalhasse mais do que aguentava.

Um ex religioso é muito parecido: ele sabe que agora é livre e que não existe uma punição para seus pecados. Sabe que pode mudar sua vida e fazer muitas coisas que antes não podia. Ele sabe que pode viver sem culpa, mas se lamenta pelo conforto perdido, como as promessas de vida, as bênçãos, a esperança e um lugar reservado no paraíso (mesmo que antes ele fosse julgado e sofresse por não poder pôr em prática algumas ações, condenadas pela igreja, pelo medo de arder eternamente no fogo do inferno).

O fato é: mesmo que as promessas feitas, as bênçãos, esperança e o lugar no paraíso não passem de uma ilusão, é isso o que conforta. As pessoas preferem ser acariciadas suavemente de mentiras a serem espancadas de verdades. Parece cruel tirar as esperanças de uma pessoa, quando isso é tudo o que lhe resta. Porém, mais cruel ainda é sustentar uma mentira por um longo tempo, por puro conforto.

Quanto mais cedo uma verdade é revelada, menos tempo se leva para recuperar-se. É muito difícil fazer uma pessoa mais velha desistir de suas crenças antigas. Porém, é mais fácil mostrar a verdade à uma pessoa, cujas expectativas de vida não dependam de falsas promessas e um lugar no paraíso.

As pessoas deveriam parar de assustar seus filhos com ideias do tipo, e deixá-los decidirem o que é melhor para eles mesmos. Se obrigam uma pessoa desde pequena a seguir uma religião por medo, é medo que ela terá de se desvencilhar da mesma, de enxergar todas as ilusões e encarar por si própria os problemas da vida.

“E o homem, em seu orgulho, criou Deus, a sua imagem e semelhança”.