DE FERNANDO PESSOA A KURT COBAIN

Do meu predileto, as palavras:

"O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração."

- Fernando Pessoa, 27/11/1930.

- O poeta, ao sentir e ao colocar o sentimento em poesia, pode colocá-lo em um outro, criando uma distância entre ele e o que é escrito. A dor fingida e distanciada através da poesia muitas das vezes é a dor verdadeiramente sentida pelo autor.

Contudo, a mágica da poesia está além do sofrimento daquele que escreve, ela reside na possibilidade de ser outro, de sofrer até aquilo que não se sofreu, de gozar de prazeres jamais experimentados propriamente pelo sujeito que escreve.

Há, na poesia, a incrível possibilidade de transformar mentiras em verdades, de experimentar sentimentos alheios, de conhecer o outro a partir de si mesmo e para além de si mesmo.

Como arte, a poesia nos permite transcender o indivíduo, tangenciando um pouco o 'outro', que é o estranho, o estrangeiro, o distante. A possibilidade de se sofrer ou gozar sentimentos que não são, a priori, somente relacionados a si mesmo, é uma das coisas mais belas do humano, possibilitando o surgimento da empatia.

De Fernando Pessoa a Kurt Cobain, finalizo com a emblemática frase deste, que foi um lema de uma geração:

"Peace, love and empathy." ou "Paz, amor e empatia."

Conca Castro
Enviado por Conca Castro em 08/04/2015
Reeditado em 08/04/2015
Código do texto: T5198958
Classificação de conteúdo: seguro