Sou

Eu sou um cara da terra,

Não sou um cara dos céus.

O céu não tem cara,

Mas encara,

Com a mesma cara,

Que a ele encaramos

Simplesmente porque é ele o reflexo

Do que pensamos

E do que sentimos.

Sou natural.

Sou material.

Sou imanente.

Apenas transcendente

Na aparente

Percepção de nossa mente

Que também é da matéria, um ente

Em plena natureza presente.

Sou um cara da terra, que um dia da química fez-se biologia. Mesmo que toda ou parte da bioquímica primeira que nos deu origem possa ter vindo do espaço, continuo sendo um cara da terra, desta terra. Sou universal enquanto elementos, mas sou terreno enquanto origem.

Sou filho distante de simples replicadores.

Sou filho distante das fantásticas bactérias.

Sou filho distante do RNA, mesmo antes do DNA.

Sou descendente da reprodução sexuada

Sou descendente da inovação

Sou descendente da evolução.

Dos erros de cópia evoluí.

Sou filho da variação

Sou filho da especialização

Sou filho da, natural, seleção

Nunca do mais forte

Mas sempre do mais adaptado a deixar o maior número de descendentes.

Sou parte simbiótico

Sou natureza em realização

Não sou o auge de nada

Sem projeto ou destino

Sou apenas um elo temporário

Sou realidade passageira

Sou realidade pensante

Sou realidade atuante

Deveria ser da vida amante

Sou eterno mutante

Sou eterno desconhecido

Sou eterno questionador

Sou fatal

Sou temporário

Sou efêmero

Sou sem destino

Sou aventureiro

Sou vanguardeiro

Sou ousadia do existir

Sem me conhecer

Sou provável presunção

Sem me conhecer

Sou muitas vezes repugnante

Sem me conhecer

Sou também desumano

Entretanto sou da real natureza representante

Por isto sou filho da terra

Sou ente material

Valho pelo que faço

Valho pelo que penso

Valho pelo que ouso criar

Valho pelo amor social que aprenda a distribuir.

Sim, sou filho da ânsia do viver

Sou vida em ebulição

Sou natureza: energia e matéria

Sou sim, um cara desta terra

Nascido para o mundo

Nascido para ser um sendo muitos

Nascido para reformar

Sou filho desta amada terra

Sou filho desta amada natureza

Sou filho deste amado universo

Sou filho de um nada

Não sou filho para um nada

Mas sou filho que voltará ao mesmo nada.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 22/05/2015
Reeditado em 22/05/2015
Código do texto: T5250319
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