Eu, por mim

Desde que me lembro, sempre fui extremamente sensível. Chorava facilmente, qualquer palavra me magoava e lembro que, nessas ocasiões, eu corria para o quarto e ficava ali na minha caminha, chorando, até me recuperar (parece que não mudei muito!).

Uma palavra que, para muitos, pode ser banal, para mim tem um efeito gigantesco.

Meu coração parece ser de vidro e já está bastante trincado, rachado, a ponto de se despedaçar de vez.

Quando aprendi a ler e escrever, as coisas mudaram um pouco, em vez de chorar engolindo as palavras (sim, porque naquele tempo, tínhamos que “engolir o choro”) que queriam saltar da boca, eu comecei a escrever cartas. Sentia necessidade de escrever para as pessoas a quem eu amava e pelos mais variados motivos, aos meus pais, para pedir desculpas por um mau comportamento ou só mesmo para demonstrar meu carinho por eles. Isso por volta dos oito anos. Eram cartinhas lindas, decoradas, uma graça. Há pouco tempo encontrei uma entre os pertences de meu pai. Fiquei emocionada ao ver que ele tinha guardado junto com outras coisinhas que eu o “presenteava”. Escrevia também para minha avó paterna, pois ela costumava viajar e ficar longe por um bom tempo. Então eu escrevia para dizer que estava com saudade.

Na adolescência, então, tudo piorou, era moda circularem, na época, entre as meninas, os cadernos de recordação em que oferecíamos, ou melhor, pedíamos às pessoas a quem gostávamos que escrevessem para nós, tive vários do tipo.

Quando a primeira paixão surgiu (platônica, claro) passei a escrever em diários. Menina tímida, ali eu confiava meus segredos e sonhos, alegrias e decepções.

Depois, por longo período, parei de escrever. Fui viver a vida imaginada dos contos tantas vezes lidos. Aí se abriu uma lacuna, um vazio, um espaço em branco, um apagão. Não me lembro de ter escrito uma linha sequer durante quase vinte anos. Parece que meu “eu” essencial ficou trancado dentro do peito, sem vez e sem voz. Resultado: muito sofrimento calado. Nesse tempo acho que realmente eu engolia todas as palavras, e pouco a pouco, comecei a extravasá-las através das lágrimas. Palavras trocadas por lágrimas...algo estava errado.

Foi quando, num dos muitos dias de solidão, tentei resgatar a garotinha escritora. Ela estava onde sempre estivera, ali, sozinha esquecida... então segurei sua mão, levantei-a e a abracei bem forte. Passamos um bom tempo assim, abraçadas, eu e minha criança interior.

Agora nossa relação está melhor, ela está feliz e eu voltei a escrever. Mesmo sem motivo, sem destinatário, apenas para aliviar meu espírito das amarguras da vida e aprender a observar as belezas da natureza que ela insiste em me mostrar. Voltei a ser eu mesma. As pessoas estranham, querem que eu me encaixe num padrão no qual, por vontade própria, jamais estarei.

Autêntica, romântica, sensível, meiga, discreta, frágil, carente... essa sou eu e sabem de uma coisa, adoro meu jeito de ser e não pretendo mudar para agradar os outros. Quem gostar do meu jeito, continuará por perto, do contrário, partirá e quanto a isso não posso fazer nada, pois tenho consciência de que é impossível agradar a todos!

LLuz
Enviado por LLuz em 22/07/2015
Reeditado em 22/07/2015
Código do texto: T5319927
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