Letras, homens e abstrações

Estas criaturas negras que agora deslizam pela ancestral máquina de escrever, transitando, descaradamente, entre os indivíduos, como se fugissem de um temporal em busca do refúgio na superfície pálida da folha de papel, escarnecem da caipirinha do morro e da pint gelada do pub inglês; ilustram romances, traições, doenças, ofensas, festas, crimes e castigos; amaldiçoam-nos, lançando seus braços frios e traiçoeiros sobre nossas terminações nervosas. O cheiro inconfundível de um livro aberto; o amarelar das páginas a fitar o leitor como quem espera o algoz separar do corpo a cabeça do inocente. A efemeridade destas criaturas ignorantes e tão solitárias, que suas personalidades dependem do vínculo dissimulado com as parceiras do sintagma. Não se iluda caro leitor. Aceitemos! Há de se ter dó das letras e dos homens.