Espaços existíveis

Uma pedra no meu sapato que machuca o pé enquanto ando fazendo curvas neste chão disforme. A cor dos teus olhos é o cinza dos meus pensamentos nesse tempo obscuro de vasto sofrer. Meus ombros encurvados me trazem o gosto amargo de existir. Sentar na beirada de um estreito pilar na parte externa do decimo quarto andar de um edifício de luxo e começar a pensar novamente o que não foi, o que não é ou o que será. Por um pouco de sossego, por um pouco da serenidade que tanto conclama a Shauara, por um equilíbrio duradouro capaz de me deixar confortavelmente embevecido. Meus demônios ressurgindo e as armas para sufoca-los desapareceram faz tempo. O equilíbrio da ponte no penhasco segue se desfazendo aos poucos, mas o dever é sempre continuar seguindo em frente mesmo a ponte desfarelando em ritmo crescente e assustador. Do outro lado da ponte se possível chegar talvez exista espaços existíveis para uma alma já em decomposição.