Banho de chuva

Ela sabe que a chuva virá a qualquer momento, pois o sol se esconde atrás de nuvens cinzentas. Mesmo assim, ela sai para caminhar na manhã de um inverno que já está chegando ao fim, não obstante a primavera já anuncia sua chegada.

Árvores outrora nuas e ressequidas, já estão com suas vestimentas novas. Folhas verdes e viçosas, flores que timidamente já apontam aqui e ali. E assim ela caminha apreciando cada detalhe, levando consigo o guarda-chuva. Com o pensamento solto, nem percebe quando a chuva começa a cair.

Decididamente oferece o guarda-chuva a uma senhora, pois não irá precisar dele. Assim, resolve caminhar sem se preocupar em se molhar. Lembranças afloram sua mente, que a levam a fechar os olhos por alguns instantes. Sentindo a chuva massagear sua pele, rapidamente se vê na infância, quando a mãe descuidava e lá estava a menina correndo e gritando numa felicidade tamanha.

Logo, chegava uma amiguinha, outra e mais outras, e de repente a rua estava cheia de crianças felizes só por estarem na chuva e numa imensa poça d’água.

- Sai da chuva Menina! Vai ficar gripada! Exclamava a mãe.

Mais que depressa a menina respondia:

- Ah, Mãe! Me deixa ficar mais um pouquinho! Depois eu tomo um chá.

Lagrimas se misturam com a chuva. Saudade de um tempo onde uma simples chuva era motivo de festa. Parada ali, ela levanta o rosto e deixa a água lavar sua alma e levar as lagrimas.

Hoje ela deixou a correria do dia a dia, e, por um momento esqueceu a idade, e voltou a ser aquela menina de apenas 8 anos. E continuou caminhando por um longo tempo.