NADA COMO UMA VERDADEIRA FAXINA

Arrumar a casa não se trata de jogar tudo fora para dar lugar ao novo, essa prática nos torna improdutivos sem criatividade, meros consumistas de tralhas novas.

Arrumar a casa seguindo conselhos espiritualistas de gurus, amigos e familiares, que só querem nosso bem, não se trata de encher uma caçamba das coisas inúteis aos sentimentos externos. Nossa casa é um segmento de nossas almas, é nela que nos encontramos e nos espelhamos, é nela que traduzimos nossas escolhas, nossas relações, nossa memória daqueles que amamos e hoje tomaram outros rumos; muitos já se foram para sempre dela.

Enquanto enchemos sacos de lixos corremos sérios riscos de não voltarmos atrás em reconhecimentos de erros e isso é facilitar para que outros ocorram sem reflexão, por influências de outros ou pura fuga nos achando as pessoas mais corretas do mundo. Crianças quebram brinquedos e pedem outros em substituição.

Arrumar a casa é trabalho árduo, deve ser tarefa diária do dia a dia, não uma vez por ano ou cada década quando passamos por momentos que desejamos esquecer.

Arrumar a casa é deixar nas prateleiras das lojas o que não necessitamos porque somos conscientes do bem e do mal, da necessidade e dos excessos que podemos passar sem.

Arrumar a casa é encontrar formas de ajudar ao próximo com aquilo que faz mais falta à ele porque tivemos o privilégio de possuir ou alguém nos presenteou com mimos que nos fortaleceu naquele momento. Coisas que nos fizeram felizes mas descobrimos que nossa felicidade não depende de objetos.

Arrumar a casa não é nos livrarmos das coisas quebradas sem antes tentar consertar, nem repassar para outros peças que não tenha conserto, esta responsabilidade é nossa.

Arrumar a casa é suar o rosto com a vassoura na mão, é resistir à poeira que deixamos acumular por puro relaxo; é uma de mão nas paredes, é arrancar do fundo do baú valores que nos embelezam ainda hoje; é remendar lacunas que o tempo fez abrir e nós não reparamos porque nos faltou tempo, ou seja, é finalmente dedicar o próprio tempo.

Arrumar a casa é um ato de aprendizagem, estamos sempre descobrindo sujeiras escondidas, novos e criativos métodos para nos livrarmos delas além de ser um ato de amor e renovação, o velho com utilidade, a arte de não aceitar a obsolescência planejada e perversa.

Enfim, arrumar a casa é ordenar as idéias, assoprar preconceitos, dedicar o tempo, sofrer pelas más escolhas mas ter a certeza de que enfrentar é limpar, perdoar é o caminho para esse milagre e doar é o alívio para qualquer peso de nossas almas.

sonia dezute
Enviado por sonia dezute em 18/11/2015
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