Amizade e Lealdade

Admiro o amigo que me inclui em seus entusiasmos, que mesmo que de forma árdua, coloca de lado sentimentos negativos como a inveja e o orgulho, seja em seus momentos de êxtase ou de angústia, visando uma melhor convivência.

Gosto do amigo que partilha seus sentimentos de forma honesta e humilde. Honesta pois não esconde que ter uma amizade, por exemplo, é algo que lhe beneficia, e é por isso que nela investe energias. Humilde pois entende suas limitações, e não supervaloriza seus obstáculos e dificuldades, frente às minhas.

Sobretudo, admiro a lealdade. Mas este é um caminho traiçoeiro, pois há de se confundir a verdadeira lealdade com a ilusória. Lealdade, ao que me parece, é o investimento de valores de respeito e confiança a alguém. Não é colocá-lo acima de sua cabeça, não é cegar-se com ideias de comprometimento e submissão. Explico-me: lealdade não concerne estar vinte e quatro horas por dia disponível a alguém. Claro que fazê-lo não implica necessariamente a falsa lealdade, mas insisto: este é um caminho traiçoeiro. Lealdade é o respeito e a confiabilidade mútua. Mais vale uma amizade que resiste aos testes do tempo e da distância, que a que é intensa, mas logo se esvai. Mais vale encontrar um amigo que não se vê há anos, e sentir-se realmente feliz ao ver que está bem, que progrediu com seus próprios esforços, a acompanhar de perto a progressão temporal de uma vida, e logo desinteressar-se desta, que gerou uma (novamente) intensa, porém efêmera afetividade entre os dois

Pensar nisso, conduz-me a outra direção, em um caminho de pensamentos que me parecem ainda mais traiçoeiros. Toda a catástrofe começa quando me pergunto: Sou eu um bom amigo?

Rafael Gonçalves
Enviado por Rafael Gonçalves em 30/11/2015
Reeditado em 30/11/2015
Código do texto: T5465071
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