Apenas uma reflexão

Cada dia que passa a vida prova que o que importa na vida não é o que se tem, mas quem se tem. Quando a gente olha para o céu se sente tão pequeno. Percebe que poucas coisas na vida valem a pena, que a única coisa que possuímos é quem nós somos para si mesmo e para os outros.

A tarefa se “ser” humano é difícil, áspera e árdua. As tentações de ceder ao caminho mais fácil e aparentemente feliz e razoável são enormes e, nessas horas é difícil ter fé... fé um si mesmo, fé no futuro, fé de que no final (se houver um final) será mais que perfeito, será pleno. A plenitude é mais facilmente alcançada nos breves momentos de suposta alegria que o mundo pode oferecer, não o maravilhoso mundo de Deus e do Universo, mas o mundo criado por homens. Festas, danças, luxúria, libertinagem e riquezas são remédios tentadores para acobertar os males da alma, são morfinas poderosas que anestesiam e blindam a visão do que é real. O verbo “ter” é sinônimo de paraíso.

O tempo é uma coisa valiosa, mais até que o próprio dinheiro, não se pode perder tempo, é preciso viver essa sangria desatada antes que ela acabe, a vida vazia preenche-se de mais vazio e os sentimentos virtuosos são deixados para trás.

Há pouco mais de um mês uma enxurrada de lama destruiu uma cidade inteira, matou um rio e toda a vida que viu pela frente, não perdoou nada. Os noticiários anunciaram a tragédia, mas as pessoas precisavam seguir suas vidas, como é natural fazer. À sua maneira cada um tenta do seu modo ajudar, dentro de suas possibilidades, mas além da solidariedade que o calor do momento desperta, não enxergamos por muito as lições que devemos levar para a vida, a verdade que devemos internalizar para guiar-nos os passos.

O que realmente possuímos nesta vida? O que realmente levamos dela? O que vamos deixar para os que ficam? Creio que na teoria todos sabemos as respostas, contudo ainda continuamos a viver a vida como se o amanhã fosse certo e que no final tudo vai ficar bem. O amanhã é uma ilusão, ele não existe, só há o hoje, o agora, o instante e urge vivê-lo com vida! Porque esperar para ajudar, porque esperar pra responder àquela mensagem, porque não retornar aquele telefonema, dar aquele abraço, dizer aquilo que se tem vontade? Nossa crença de que amanhã virá vem da nossa covardia de não aceitar que iremos um dia e deixamos sempre pra amar depois, pra ser gentis depois, pra se caridosos depois... nossa falta de aceitação da morte faz-nos ser maus e egoístas e, a premissa de que” só quando se perde é que se dá valor” vira uma verdade.

Hoje meu tio dedicou um pouco de seus preciso tempo pra mim, para me ajudar. Ele estava correndo, com pressa, mas ele parou e me dedicou um pouco da sua vida, da sua boa vontade. Não existe dinheiro nesse mundo capaz de chegar perto do valor disto. Talvez a gratidão possa pagá-lo, pois em meu coração sempre haverá uma luz pulsando por ele.

Muitos já passaram por mim e deixaram um pouco de si, um pouco de lembrança, um pouco de amor e atenção. A gente só possui o amor que tem pra dar e, essa fonte é inesgotável. O amor é uma das poucas coisas nessa vida que valem a pena, que cobre uma multidão de pecados e imperfeições, que dá sentido a tudo o que existe.

Cada dia que passa aprendo mais, cada dia que passa busco retribuir todo o tempo que me é dedicado, todo o amor que me é dado tentando ser um ser humano melhor, tentando “ser” humana. Nada mais valioso para mim que as pessoas que me cativam e que cativo, não há preço para um coração humano aquecido pelo amor.

Aqueles irmãos de Minas, os franceses e os tantos outros por todo o mundo que sofrem, o que eles tem? Perderam suas casas, suas lembranças, sua humanidade. Não é o dinheiro que irá devolver-lhes a vida de volta, só a caridade, a solidariedade, o amor do próximo é que pode restaurá-los, restaurar a todos que tem seus corações maculados pelas intempéries da vida. Graças a Deus que perderam suas casas, mas não uns aos outros, não vale a pena viver sozinho cheio das riquezas que o dinheiro pode pagar, mas vale a pena ser rico sem ter nenhuma delas. O que se leva da vida é a vida que se leva.