Moça, eu quero o troco do café.

É difícil essa coisa de se vestir com a realidade e deixar os sentimentos de lado, entender que fins são necessários e que a gente não pode simplesmente fechar a mão para aquilo que há de vir. Digo isso porque hoje beijei uma boca, desejei tanto que fosse a sua que olhei bem nos olhos daquela garota linda, pedi desculpa e fui embora. Eu sai correndo e certamente isso foi a coisa mais ridícula que já fiz na vida. Me arrependi é claro, era pra ter sido um encontro bacana, afinal, a gente sempre se deu tão bem. Depois que eu a deixei plantada num café, fui beber alguma coisa, queria algo forte mas só tinha cerveja. Bebi. Enfiei os fones no ouvido. Los Hermanos. Chorei no caminho. Entrei no ônibus. Ela me ligou. Riu de mim e disse que precisava me entregar o troco do café. Não vou te agarrar, ela disse. Eu prometi mandar mensagem quando chegasse em casa. Mandei. Quero recompensar o dia de hoje, quero o troco do café em beijos demorados e olhares que se sustentam, quero o troco do café em carinhos e mordidas naquelas bochechas coradas. Mas preciso curar essas feridas no meu coração, elas parecem que estão cicatrizando, mas vivem sangrando e manchando minha vida. Ela quer cuidar dessas feridas e eu só quero que ela entenda que eu preciso fazer isso sozinha. Talvez um dia essas feridas parem de sangrar e eu finalmente recupere minha felicidade, só então vou poder fazer alguém feliz. Eu espero que ela entenda que não posso forçar nada, ninguem nunca deve forçar nada. Cometer com ela, o mesmo erro que cometeram comigo, seria covardia. Espero de verdade que ela entenda. A gente pode escrever uma historia bonita um dia. Sei que não preciso dizer que sinto muito por não poder ser agora. Mas se no final de tudo, ela ainda estiver por aqui, faço questão do troco do café.