Na Catedral

Andando nas ruas de forma apressada e contínua. Este sou eu nas ruas do centro da cidade.

Levando debaixo do meu braço direito pastas com diversas papeladas: desde contas a pagar, boletos e anotações até cópias de meu Currículo, pois estou desempregado. Na praça há várias agências e estas podem me encaixar.

Mas me sinto insensível em relação ao que ocorre ao meu redor. Enquanto isso, estou andando de maneira apressada.

Chegando a praça principal observo uma catedral. É uma catedral antiga de arquitetura barroca. Sabia de sua existência pois passo constantemente pelo local,mas jamais tinha reparado em seus detalhes artisticamente falando.

Do nada sinto como se uma orgia sonora pairasse sob minha cabeça, uma necessidade de se livrar daquela pornéia auditiva urbana fez-se mais que necessária naquele instante.

Ali estava a catedral, senti como uma energia me puxando. A minha vida toda sempre cultivei o desprezo e a descrença em supostos deuses ou representantes. Sempre achei que tanto padres, pastores, lamas e ate Deus perdiam seus preciosos tempos em tentar mudar humanos imperfeitos – na realidade de certa forma ainda acredito nisto.

Mas, ‘’whatever’’, entrei no templo. Não senti ojeriza e sim uma paz interior. Os moveis antigos evocam um tempo onde as pessoas dependiam muito mais da fé do que hoje, onde devotamos tudo a tecnologia e evocamos Deus geralmente apenas em último caso - geralmente quando gastamos dinheiro demais e quando nos apaixonamos perdidamente. Sob este ponto de vista posso considerar estas pessoas como grandes combatentes e guerreiros.

Senti uma imensa paz. O espaço vazio proporcionou isto e me despreendi do tempo naquele instante. Sentei na cadeira, não me ajoelhei no genuflexório, apenas me acomodei e expandi as minhas sensações.

Compreendi o sentido de ‘’sagrado’’ naquele momento, não senti e nem ‘’ouvi’’ Deus falando comigo, mas senti uma paz que era necessária e que me ajudou a ordenar certos aspectos da vida.

Misteriosamente não havia nenhuma pessoa e nenhum padre, parecia que era uma igreja fantasma. Não me importei a principio embora depois aquilo tenha me provocado certo assombro.

Depois de aproximadamente 15 minutos peguei minhas pastas e fui embora. Ainda hoje não tenho crença forte em Deus ou religião, mas percebi que uma das manifestações de Deus é o silêncio.

Algumas vezes não precisamos de toneladas de palavras e sim ficar mudos.

Deus é o silêncio.

Roberto Panoff
Enviado por Roberto Panoff em 17/01/2016
Código do texto: T5513583
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