Parênteses para o silêncio

Você precisa cultivar a habilidade de ser só você mesmo e não estar fazendo alguma coisa. É isso que os telefones estão marando, a habilidade de só ficar sentado fazendo nada. Isso é ser uma pessoa. "Porque por baixo de tudo na sua vida, tem aquela coisa - aquele vazio eterno. Aquela desconfiança de que nada vale a pena e você está sozinho. E às vezes quando as coisas ficam calmas, você não tá esperto, tá no carro, e aí você começa a perceber 'Ahhh não, lá vem. A solidão'. Essa coisa chega, essa tristeza. A vida é triste demais, só estar nela... e é por isso que a gente dirige enquanto manda mensagem de texto. Praticamente 100% das pessoas hoje usam o celular enquanto dirigem, as pessoas estão se matando com seus carros, mas elas assumem o risco de tirar uma vida e arriscar a própria vida porque não querem ficar sozinhas por nem um segundo, porque é difícil demais. [...]

É que, porque a gente não quer aquela pequena tristeza, a gente a empurra pra baixo do tapete com um celular, ou comida, ou masturbação. A gente não se permite mais sentir-se extremamente triste, ou extremamente feliz, você meio que só se sente satisfeito com seu produto, e morre." Fonte: Revista Galileu

A gente tem duas opções (talvez três): encarar os momentos de tristeza, alegria e tudo o que vier (obviamente dentro da saúde psíquica), o que pode ser ajudado pela talvez terceira opção que também pode ser parte da segunda: carregar um sorriso no rosto nos momentos mais complicados. E esse sorriso, que "eis a questão", pode não ser essencialmente viver tais momentos, e a lógica é sentir cada instante para ser mais, digamos, humano.

E depois de um tempo você cansa de suportar, você tem medo de não mais aguentar aquelas horas de percepção do quanto somos pequenos, do quanto tudo pode dar errado e podemos perder tudo, do quanto gastamos tempo com algo que não gostamos ou o quanto as coisas não nos satisfazem e falta algo eternamente mesmo que seja só a vontade e a coragem. Ou do quanto as pessoas fazem você se sentir dessa forma. Aí a música fica triste, o filme fica triste, o livro fica sem gosto. É quando você se perde com um sorriso pra confortar até chegar na segunda opção: deixar de viver isso e passar por cima. E empurrar com a barriga os minutos do relógio, os dias, e tapar buracos mais fundos com pouco...

Insisto em acreditar no equilíbrio (e que existe algo dentro de nós que pode nos salvar, como pessoas). Perdoem a minha divagação.