entre o coração e a garganta
Tem isso. Esse vácuo entre o coração e a garganta. Esse espaço que desvia o sentido e faz tudo ser só um significado universal e generalizado. O mesmo tanto faz pra todo mundo. Minhas referências sobre o mundo se perderam, e eu descubro novas, dia após dia, mas ficam presas nesse buraco. Foram tantos sentidos vãos, que já não me cabe nenhum símbolo, nenhuma mediação. Desaprendi a ressignificar. Só a literalidade me ampara agora. A arte já não produz nenhuma catarse, e a arte sempre foi a minha vida. Falta o afeto. O verbo mesmo, afetar. Mas os verbos, eles também ficaram presos nesse espaço, entre o coração e a garganta. Sobra silêncio. Sobra muito. Sobra pro outro e principalmente pra mim. Há meses as palavras não me aparecem (talvez seja otimismo da minha parte esboçar um meio-sorriso e um meio-suspiro-de-alívio, por terem aparecido agora). É que eu nunca precisei fazer esforço pra sentir, muito menos pra expressar, e tudo isso é bem novo pra mim. Pontualmente, consigo enxergar os momentos em que as pessoas encheram meu coração, feito bexiga, e jogaram pra cima pra voar, pra cair no chão e estourar, pra alguém espetar a agulha. E de um modo ou de outro, explodiu, esvaziou. Sobrou só esse ar, tapando a passagem entre o sentimento e a voz.
E a vontade de gritar.