Psicografia nº 11 - Asneira

Não consigo não consigo não consigo. É tudo questão de desentendimento, falar coisas impossíveis de se entender. É frescura? Querida, que tal o frescor de um dia de maio? e se estivermos na primavera, melhor ainda. Eu acho graça. Mas não há graça, na verdade. É tudo uma questão de falta de graça implícita, que está à flor da pele. No entanto, a flor da pele não tem nada a ver com a primavera ou o frescor da primavera, muito menos com o vento que acaba de soprar por essas bandas daqui. Como disse, o negócio todo se fez por causa de algumas frases mínimas, mas ditas de forma especial. Especialmente tolas e de forma tal que ninguém entendeu o que estava sendo falado. Só havia a pressa de ir embora e parar de escutar asneiras. Agora, só que internamente e ninguém está me ouvindo tenho certeza, vou direto ao ponto: não há ponto nenhum, é isso. Nunca houve. Só o que existiu entre nós foram inícios tardios de pontos, piscando feito estrelinhas no céu, que depois de algum tempo desapareciam. Não há glória a partir disso, não há esperança, não há luz, não há ponto em canto algum. Não se preocupe, já revistei tudo, nem sinal de ponto. Só o que encontrei foi pó. Pó poeira restos de fumaça e partículas minusculazinhas de modo que eu nem sei que nome dar a elas. Por enquanto, só o que temos sob nosso poder é: o pó que encontrei pelos cantos. Isso serve como evidência? Ou é só a confirmação de uma frescura não comprovada? Eu me rio dessas coisas, sabe? Dessas coisas que dizem respeito às palavras e às formas como as palavras nos são apresentadas. A forma... a forma... sempre perseguindo os menos preparados... a forma brutal... não que a forma seja brutal em si, mas torna-se brutal a forma da... forma? Disso é impossível se ter certeza absoluta., porque a certeza absoluta, a essas alturas, já é obsoleta. O que fazer agora dos resquícios de uma idéia original? Eu tenho em mente milhares e milhares, um grande turbilhão, de palavras se embolando e se debatendo e gritando para serem escritas mas oh meu deus eu não consigo dizer tanta palavra em tão pouco tempo! Que coisinha mais difícil que me propus! Como disse, não se trata do efeito que a palavra nos causa, mas sim a forma através da qual ela nos causa. Somos seres que por algum movimento do destino, acabam sendo causados por alguma palavra - ao menos uma vez durante toda a vida. Não é torturante? Oh, caro leitor, só agora eu pareço perceber a que tipo de literatura eu te expus! Humildemente, muitíssimo humildemente, eu peço desculpa por esse descuidado atroz, essa falta de coragem em ir direto ao assunto: desculpa. Mas também, depois de toda essa loucura consentida, me parece impossível que tu saias ileso daqui. Levas contigo, bem embaixo da sola do teu sapato, o pó de que falei. O vento fez o favor de espalhá-lo ainda mais. Tanto trabalho...

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 19/07/2007
Reeditado em 07/08/2007
Código do texto: T571728
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