Entre o Pórtico e o Altar

Recordo-me de quando eu era criança, ouvindo as historias do meu pai, historias de um tempo passado onde YHVH com mão poderosa livrou seu povo daqueles que o fizeram cativeiros e escravos.

A minha historia preferida tinha a ver com um mar chamado vermelho, e um vento impetuoso que fez com que as aguas se separassem em duas paredes permitindo que meus ancestrais passassem de forma tranquila. Essas histórias faziam meu coração queimar como o fogo que não deve ser apagado sobre o altar.

Eu almejava ver novamente os sinais que foram feitos no céu e na terra, como aqueles descritos pelo meu pai, mas nos dias de hoje, isso não mais acontece. Perdemos o lugar de prioridade no nosso coração, enriquecemos como poucas nações, e dominamos terras que antes os descendentes de Enaque dominaram. Éramos temidos e não temíamos a mais nada.

Mas as estações estavam mudando, no templo havia alguns cochichos a respeito de um homem que falava as palavras de YHVH como nas historias que meu pai me contava, por alguns, como eu, era admirado, por outros era rejeitado, mas fosse como fosse, as pessoas que já o tinham ouvido diziam que era um homem que falava com enigmas, e trazia revelações acerca de coisas que estavam por vim. Era um novo vidente que vinha de Judá, e falava a Israel, herança direta de YHVH. Joel era seu nome, e ele percorria o templo quase que como um sussurro.

Como era de se esperar, eu fiquei curioso e sedento por ouvi-lo, mas tinha obrigações que não podiam ser abandonadas, pois era herança de meu, do pai de meu, e por ai vai.

Enquanto eu andava entre o pórtico e o altar cumprindo com minhas atividades diárias, minha mente frequentava as historias que meu pai contava para mim, e eu associava isso com aquilo que ouvia que o tal do vidente estava falando. Meu coração ficava grande demais pro meu peito, e queimava de forma profunda.

Faziam cerca de 30 anos que eu havia recebido a herança sacerdotal de meu pai, e eu ainda estava perdido no que fazer ali, entre o pórtico e o altar. Sentia dentro de mim, um grito, quase que um eco, que dizia algo que está errado nisso, não é sobre o ritual em si, mas sim sobre o relacionamento que Moisés tinha olhar face a face.

Mas não poderia questionar isso, o que eu sinto em nada tem a ver com o que eu devo fazer. Sou sacerdote de YHVH, e deixar a lenha preparada para o sacrifício é meu dever, nada além disso, nada.

Enquanto eu trago a lenha para ser queimada, observo as pessoas trazendo o que devera ser entregue como sacrifício sobre o altar.

Ando entre o pórtico e o altar, carregando as toras para o sacrifício, observo atentamente enquanto o sumo entra pelo portal, pós o sacrifício, para pedir perdão pelo seu povo, mas de repente algo incomum, e fora do cronograma acontece, ouve-se ao longe: “O vidente está vindo, o vidente está vindo trazer uma mensagem de YHVH, uma mensagem à sua herança.” Meus olhos se voltam para a colina em frente ao templo, na mesma direção em que todos os olhos, e no cume do monte, finalmente meus olhos o veem, de cabelos pretos. Não vi nada demais nele, se o visse passando do meu lado, talvez não o olhasse mais do que uma vez para saber se era um conhecido.

Mas seja como foi, meu coração estava ansioso para ouvir o que ele tinha a declarar, qual era a mensagem que YHVH tinha para nós. Após alguns minutos de silencio, longos minutos para mim¸ finalmente ele falou: “Que os sacerdotes, que ministram perante o Senhor, chorem entre o pórtico do templo e o altar...”.

Em questão de minutos, todos os sacerdotes, estavam em prantos, com o rosto em terra, e apenas alguns olhavam para o céu com lagrimas no rosto, todos choravam. Desde o pórtico ate o altar, todos choravam. O vidente andava entre todos, e intercedia enquanto que os sacerdotes choravam.

Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas ouvimos a voz do vidente trazendo o desfecho real que almejávamos, o ouvíamos falar: "E todos vocês vão saber que eu estou no meio da congregação, e que eu sou o YHVH, e não há outro além de mim...”.

Como era de se esperar eu fiquei pasmo, chocado, que ainda nos nossos dias YHVH estava nos chamando e nos aceitando como sua herança particular. Nação amada.

Agora assim como meu pai me contou as historias de tempos passados, e ate algumas de alguns videntes que ele mesmo viu, eu também contaria aos meus filhos, sobre as paredes de agua, a liberação do cativeiro, e sobre um vidente que meus olhos viram, e enquanto ele falava meu coração queimava. O vidente Joel.

Dhymas DuGuetto
Enviado por Dhymas DuGuetto em 09/08/2016
Código do texto: T5723401
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