deus e Eu

Toda vez que sofro demasiadamente, olho para cima e vejo braços aconchegantes se estendendo para mim, chamando-me... Mas são braços lotados de Vazio, de uma falsa Verdade, de um falso sentimento de determinação, de uma benção que amaldiçoa...

É um ser inexistente que, com sua luz que cega a todos, me chama, quase gritando...

-"Venha para Mim, Eu sou a total falta de acaso. Eu sou a Incontingência, a força do fraco!".

Sinto como se fosse o bálsamo de meus sonhos, de total tranquilidade, de total proteção quanto às dores das quedas e dos naufrágios...

Mas de total incoerência, de certa podridão. Um defunto me acalmando! Me chamando para apodrecer ao seu lado, em total segurança, em total tranquilidade -fúnebre tranquilidade...

Deus morreu -pelo menos para mim-, é verdade, mas ainda conta com uma arma quase infalível (será que seu eco ainda reside nesse meu mundo caótico?): Um sentimento de vazio que me preenche por completo, vazio labiríntico...

A vitória do Eu (do egoísmo nietzschiano, da criança que me habita) seria a total aniquilação do "desejar nada". Bater mais no Defunto...

Mas sinto que sou demasiadamente fraco pra cumprir esse papel, porém, demasiadamente forte para sentir o hálito putrefato do Movente, que de tão cansado da eterna batalha da vida, tornou-se Imóvel...

E assim vivo: uma corda bamba, "uma ponte", uma bolha de vacuidade, um sopro de Nada enlameado, um abismo!

ploft
Enviado por ploft em 20/07/2007
Reeditado em 09/10/2007
Código do texto: T573015