No canto grande da sala ardiam fragmentos de sóis nos marfins, sustenidos e bemóis do velho piano. A dança dos dedos imortalizava “Sonata ao Luar”;momento de explosão de um homem fadado à surdez que ouviu o apelo de uma musa cega numa noite em que o luar era invisível também aos  não cegos. E quais os não cegos assistiriam ao espetáculo ofertado a todos quando prefeririam ir à busca do Santo Graal trazendo à luz a luz buscada com olhos míopes encobrindo toda a miséria de um estar entre rebanhos enquanto ansiavam ao cargo pastoril? E quais pastores, assombrados por tédios em noites quando todos os filhos adentravam o quarto como espelhos refletindo uma imagem miserável, não forjaram para si a existência do tempo para a glória que sucumbia à porta de uma consciência mais profunda e incorruptível? 

(Trecho de um conto de minha autoria - A Mesa)
Ana Liss
Enviado por Ana Liss em 22/08/2016
Reeditado em 22/08/2016
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