MINHA NATUREZA É SER SOL (SUPERAÇÃO)

Tantos favores a se fazer para aqueles que mal sabem como passar a manteiga no pão durante o café da manhã. Estou perto de fechar os meus olhos, mas a obrigação de telespectador me chama pra assistir qualquer programa que me prometa alguns momentos de felicidade instantânea ou distração. Amo o lúdico. Ontem, me senti um super cidadão quando fui até outra cidade fazer um depósito bancário.

Incrivelmente, amo burocracias e pequenos detalhes, pois me dão a sensação de segurança e organização.

Acabei de sair de um relacionamento abusivo e carmático, estou depositando minhas frustrações em música indie, cannabis e manias urbanas. Arrumo e desarrumo o quarto todos os dias e não chego a resultado algum. Vejo minha vida como um jogo de tabuleiro e estou voltando várias casas, às vezes, penso que cheguei à estaca zero. Meu quarto cheira incenso de jasmim, com pitadas de maconha e perfume importado que borrifei no ventilador para disfarçar o aroma da minha recreação adulta.

Este final traumatizante me rendeu sérias quedas de cabelo, sexo inseguro, bebedeiras e hematomas. Também rendeu a leitura de um livro inteiro de história, desde o paleolítico até a Revolução Francesa, que por sua vez, me deu a ideia de querer um habeas corpus para minha prisão emocional. Mas dizem que em ferida aberta não se mexe.

Em alguns momentos culpo a mim mesmo por ter escolhido mal, a verdade é que desde o inicio eu sabia que estava acima de tudo isso, mas todo metido a inteligente é carente, pelo menos no meu mundo de teorias prontas que fica localizado no terceiro andar do meu lobo frontal. Durante estes dois meses, fiz sérias pesquisas em revistas cientificas a respeito da superação humana e cheguei a infinitas conclusões precipitadas.

Deixei de escrever e fiz do cinema (meu ponto de amor) uma obrigação de aproximação daquele AMOR que nunca foi meu, acompanhado de terríveis filmes dublados e longas esperanças de minhas mãos serem tocadas sem que eu precisasse pedir. E quando deixaram de ser tocadas, eu sabia que tinha acabado, mas mesmo assim insisti. Talvez, por puro medo do fracasso que insiste em aparecer nas minhas relações. Depois, vi que era tarde demais, eu era ótimo e ele estava em outra época. Talvez, de fato, eu nunca cresça o suficiente pra dar uma volta inteira e achá-lo no inicio. Muitos querem abraçar a noite e eu não costumo negar escuridão, prefiro ficar na minha volta incompleta, desfrutando sem culpa, ali já latejou demais e, repito, com ferida aberta não se brinca.

Até ontem, pensei que quando sua boca tocasse na boca murcha dos homens vazios como ele, algo em mim morreria, mas sou vida eterna. “Quando o amor se torna muito difícil, então é hora de deixá-lo ir, porque você pode achar outro amor, mas não outro você”. Estou levando essa frase como meu único mandamento divino.

Estou nas nuvens, no alto das montanhas, naquele lugar que você sempre quis chegar. Acontece que já nasci aqui, só desci pra brincar com um pouco de perigo ignorante. Minha natureza é ser sol.

Lucas Guilherme Pintto
Enviado por Lucas Guilherme Pintto em 13/09/2016
Reeditado em 13/09/2016
Código do texto: T5759767
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