Psicografia nº 15 - Sobre a espera até a exasperação
Estou à espera da próxima coisa, do próximo movimento vital. Enquanto o fato em si não me alcança, fico brincando de escrever.
Aos poucos, descobri que escrever pensamentos é como um suspiro, quase uma descontração dos músculos.
Sou uma nota única e interminável cantada por um tenor gorducho. Mas o tenor acaba se engasgando ao tentar me pôr para fora. Eu fico atravessado em sua garganta. O tenor, então, morre de mim.
Eu também já morri de mim. Uma morte ligeira. Num segundo, não me sentia mais. Quando notei, já estava dançando uma valsinha fúnebre por cima das nuvens. Meus passos desfaziam as nuvens aos poucos, espalhando sua bruma. Há estrelas nessa noite, há lua. Há eu, também. Aí, eu caio e vivo novamente. Foi uma morte ligeira.
Acendo uma fogueira num domingo à tarde. Em casa, procuro arranjar coisas das quais quero me desfazer. Coisas já velhas, desgastadas, que só ocupam o espaço do depósito. Acendo a fogueira com alguns gravetos iniciais e, aos poucos, vou despejando o material nas chamas nas chamas nas chamas. Procurei por alguns papéis escritos por mim há alguns dias atrás. Um material que não me agrada muito. Eu, às vezes, me desfaço de algumas coisas que escrevi e de que não gostei. A fogueira parece sempre viva, e eu sempre a alimentá-la. A fogueira sempre viva e eu a observar o seu calor que emana até mim. Meu rosto recebe aquela sensação estranha de uma máscara sendo derretida. Minha máscara é de cera, e o fogo acaba comigo, por fim.