Conformidade

Antes d’eu me mudar de cidade, uma grande amiga me disse a seguinte frase:

“Letícia, não adianta você mudar de lugar. A dor não vai ficar aqui, ou vai te deixar quando você for embora. A dor não vai desaparecer porque você vai morar em uma cidade nova ou vai conhecer pessoas novas. A dor vai dentro de ti e não há como retirá-la à força, pois ela não é palpável; nem como mandá-la embora, pois ela não é um ser; tampouco ignorá-la, pois ela sempre estará presente.”

Não acreditei, teimosia é meu sobrenome. Fui, ou melhor, vim, cheguei e levantei acampamento. Os primeiros dias foram produtivos, eu parecia até outra pessoa. Não demorou muito, a Letícia de sempre apareceu.

Assim como a dor, não dá para ignorar quem somos de verdade. Podemos interpretar papéis, fingir desejo e pôr falsos sorrisos no rosto, mas uma hora a cortina se fecha e você se vê obrigado a se despir da personagem, a lavar o rosto e encarar o espelho, vendo escorrer toda a maquiagem.

E assim aconteceu, não deu uma semana e eu estava lá, chorosa, decepcionada comigo e com minha capacidade de não aceitação dos fatos. Senti-me fraca.

“Como pude deixar me abalar dessa forma?”

“Por que ainda doía tanto se muitos meses haviam se passado?”

“ Por que a presença constante se a casa nova não tinha nenhuma lembrança dele?”

Eram alguns dos milhares de questionamentos que habitavam minha mente inquieta. Mais uma vez então, tentei tapar as feridas utilizando velhos métodos. Afinal, não é verdade quando dizem que só se cura um amor antigo com um novo?!

Já deu para perceber que os conselhos saudáveis, eu não sigo.

Conhecendo minha personalidade eu já desconfiava do fracasso, mas vai que eu conseguiria mudar?

Não mudei, óbvio.

Depois de tanto dar com a cara no muro, resolvi me aceitar.

Aceitar que os processos de recuperação do meu coração são demorados e que tentar fugir disso só me fere mais.

Aceitar que ainda dói, e vai doer por um bom tempo, e que eu tenho que aprender a conviver com esta dor.

Aceitar que não sou alguém que alimenta ódio ou deseja o mal dos outros, e o que as pessoas pensam sobre este meu jeito não importa.

Aceitar que não sou um fracasso por sentir demais.

Aceitar que uma cerveja gelada, boa música e a lua cheia são mais reconfortantes que muita gente.

Aceitar que tudo, mas tudo mesmo, um dia passa.

Curtiremos, pois, a caminhada… eu e minha dor.

A Máximo
Enviado por A Máximo em 28/09/2016
Código do texto: T5774692
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