Psicografia nº 12 - Apelo

Mas, como pode? Eu me sentir, em certas ocasiões, despreparado para mim mesmo? Pode alguma coisa brotar nessas condições, nesse escuro tão sem efeito? O chão parece tão igual a mim, a ti, nós. Mas, porque há tudo o que se vê e se presencia por aí? Alguém me apresente ao Propósito! Sendo que o que eu já pensava conhecer vai perdendo o sentido - gota a gota, o sentido vai se perdendo. Agora, cresce em mim a vontade de gritar e o meu grito arrasar tudo, e de repente eu quero fechar os olhos e, como quem dorme, deixar de existir - ou perceber - por alguns longos instantes até que a minha própria consciência se escorra toda pelo ralo. Boom. Tudo se acaba tão rápido: porque nasci. Clarice, amor, ajude a encontrar o que procuro. Ajude a suportar pacientemente cada segundo no qual eu vivo, mesmo sem me dar conta do que estou dizendo. Lance dentro de mim a fagulha fria de um cadáver em paz. Lance-me na suspensão das tuas entrelinhas, do ilegível intransponível império da luz mais forte - que pode muito bem libertar a todos nós. Toda gente tem em si, ainda que não descoberta, a vontade rasgante de acabar-se. Clarice acabe comigo, por favor - que eu já não sinto mais o vento no rosto.

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 25/07/2007
Reeditado em 07/08/2007
Código do texto: T579065
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