Psicografia nº 10 - Cantos de página

Hum...

eu chego a rasgar os cantos das páginas que mexem com a minha paciência. Falo sério, eu me rio dessas coisas. Acho tanta graça. Mas, graça mesmo, é o que isso não tem. Olhar diretamente para a parede, o chão, ou o teto, é algo que me lança num estado de graça contemplativo, beirando o inacreditável. Dirijo o meu olhar de coisa vaga a lugar nenhum, à procura de um não-sei-o-quê - se é que estou mesmo à procura. Já evito até o meu próprio olhar, minha imagem num espelho. Não consigo ver-me, não me entendo nem um pouco. Aliás, um pouco, quem sabe...

Uma certa pergunta de um professor meu não me sai da cabeça: o que motiva, afinal, o ser humano? Esse texto inerte, sem ação real? ou uma queda brusca e desentendida? ou alguns pássaros cantando suas emoções lá fora? o grito de alerta precoce? ou a tentativa louca de expor coisas INcríveis que acontecem dentro da alma? ou a tentativa louca de esgotar-se completamente em palavras? ou o desejo mórbido de acabar com uma história alegre através da morte dos seus personagens?

Escondido, a um canto da sala, e sozinho, não me enxergo, e eu tenho tempo e espaço para responder às perguntas mais urgentes; pensar me ocupa espaço e há mil cores em minha cabeça; há mil quereres em meu espírito rarefeito e dez mil em meu coração, que segue num ritmo estranho. Há também mil faces ocultas nesta sala; o que se respira, mata aos poucos; mata as idéias - o ar mata minha idéias; o chão parece frágil, o que faz da queda um movimento quase eterno. que paralisa lentamente... paralisa aos poucos... ao ponto de quase não existir mais... e eu vou sumindo aos poucos... aos poucos... até que o pano caia, e tem-se o fim da representação.

Sou novamente - como antes.

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 25/07/2007
Reeditado em 07/08/2007
Código do texto: T579070
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