Me contorço em palavras

Eu quase te amei. Quase amei teu rio, teu riso, amor. Amei ouvir tua voz do outro lado. Teu corpo do outro lado. Lado da cama. Lado da cama do corpo da saudade. Amei a saudade do corpo da cama do vinho. Quase encontrei meus passos em teu caminho. Meus planos no final de semana, meu carinho barato. Meu travesseiro reclamou tua ausência, o cheiro que ele nunca sentiu. Meu corpo encontrou meios para aquietar essa saudade. Quase amei o jeito que você mexe no cabelo, o som da sua voz. Seu sorriso mudo. Quase amei a cama bagunçada de outros amores, outras dores. Os lençóis sujos de outros gritos. Eu nunca pude te contar ao pé do ouvido, dessa angústia que eu sinto, quando você está por perto. Eu quase amei falar para as paredes do teu quarto, o que eu sinto. Para a toalha do teu corpo, o que eu minto. Eu quase amei nossa loucura. A carta que você não escreveu, o que eu não li. Eu não repousei meus olhos nas tuas letras, não repousei meu amor. É por isso que escrevo. É por isso que me contorço em palavras.